Transfira informações e responda a perguntas de maneira acessível e fácil. Esse é o objetivo do projeto Zap Zap Domésticas, criado em 2018 e agora chegando em sua segunda edição. A idéia é usar o WhatsApp, um aplicativo de mensagens, para interagir com trabalhadores domésticos, apresentando e explicando seus direitos e, agora, respondendo perguntas sobre a nova pandemia de coronavírus.
O projeto foi desenhado pelo Observatório dos Direitos da Mulher e Cidadania, um grupo fundado em 2015 por pesquisadores de diversas áreas. Mariana Fidelis, advogada e membro do Observatório, explica que está focada em “expandir o canal de diálogo, com categorias de mulheres”, incluindo as de trabalhadoras domésticas.
Mariana ressalta que 90% dos funcionários da casa são mulheres, então o Observatório considerou importante a criação de um projeto focado nessa categoria. Outro fator importante foi que, em 2016, os regulamentos da chamada PECs domésticos que incluíram a categoria em direitos trabalhistas.
A princípio, o grupo Mariana criou um guia que explicava o PEC e os novos direitos e obrigações das donas de casa, mas descobriu que o material era pesado e complicado demais. “Decidimos usar outros tipos de idiomas, como vídeo e áudio, para transportar esses dados”, diz o advogado. E com isso veio o Home Zap Zap.
Para colocar essa idéia em prática, um grupo foi criado no WhatsApp, aberto a todos os trabalhadores domésticos interessados. Na primeira fase do projeto, o grupo foi utilizado para trocar vídeos, gravações em áudio e curtas mensagens de texto com uma explicação do PEC, mas também reforma do trabalho e o que mudou para esses profissionais.
“Conversamos sobre os efeitos no dia a dia, a rotina de trabalho e questões como trabalho infantil, uniformes, direitos trabalhistas”, explica Mariana. A idéia era usar formas de comunicação simples e fáceis de entender, focadas principalmente na comunicação oral, para atingir o maior público possível.
O grupo tinha 200 membros, mas o projeto foi suspenso devido à falta de fundos. Agora, depois de receber o patrocínio, ele chega em sua segunda edição, voltando às questões do trabalho, mas também trazendo informações relacionadas à nova pandemia de coronavírus. O novo grupo já tem mais de 400 membros.
“Existem várias discussões sobre o trabalho doméstico: essencial, informalidade, reclamações sobre a obrigação de continuar trabalhando, a falta de equipamentos de proteção e segurança no ambiente de trabalho”, destaca Mariana. A idéia do grupo é fornecer informações sobre como cuidar e reivindicar direitos.
Devido aos diferentes efeitos da pandemia, o projeto foi cada vez mais concluído e envolveu especialistas de outras áreas, especialmente a saúde, que responderam perguntas sobre o coronavírus. O vídeo é produzido semanalmente e lançado em grupo, juntamente com sons, mensagens e adesivos.
“É um canal aberto. Eles [as domésticas] faça perguntas, comente, critique. Eles podem relatar o caso e existem pedidos de emprego ou perguntas sobre onde encontrar um emprego ”, comenta Mariana.
A segunda temporada do projeto durará mais uma semana, mas o grupo continuará e todo o material estará disponível no canal do Observatório no YouTube. A ideia, segundo Mariana, é iniciar a terceira fase, com a disponibilidade de uma revista que explique o processo de luta dos trabalhadores domésticos por direitos.
“Muitas mulheres até hoje não conhecem a lei [PEC das Domésticas], e eles nem sabem a história de como a luta aconteceu “, justifica Mariana.
Uma das criadas locais que participam do grupo é Selma dos Santos Dias de Sousa, que mora na cidade de São Paulo. Ela entrou na primeira parte do projeto e continuou a participar dessa nova fase.
“Para mim, o projeto é maravilhoso. Eles enviam vídeos explicando as coisas, eu aprendi muito com o projeto. Recomendo aos meus amigos, que trabalham comigo, você aprende muito”, comenta Selma.
Ela ressalta que o projeto é importante não apenas porque explica os direitos, mas também como forma de valorizar a profissão. “Às vezes, ficamos um pouco tristes, não apenas eu, mas todas as donas de casa, porque é um serviço louvável, então perdemos o interesse [em questões sobre o tema]”, explica Selma.
Graças ao grupo, ela diz que conseguiu aprender sobre seus direitos e responder a perguntas de trabalho. Selma, por exemplo, não entendeu bem o FGTS e aprendeu sobre isso graças ao projeto.
“Eles falam sobre o que temos direito, o que o empregador tem, para mim neste momento [de pandemia] é muito, muito importante “, diz o nativo.
O projeto ainda está aberto a novos membros que podem se registrar entrando em contato com (11) 993183036, enviando seu nome, número de telefone, idade e bairro.