Escrevo para cobrir tópicos no campo da tecnologia – basicamente (neuro) ciência e tecnologia – que têm um interesse filosófico ou social mais amplo. Geralmente, estou desenvolvendo uma série de quatro ensaios, dos quais preciso de dois meses, mais outro, em que reviso o campo. Essa dinâmica me dá muita satisfação e, ouso dizer, satisfaz as aspirações de um perfil de leitor de texto mais longo e mais conectado, para Twitter empilhava cada vez mais.
Compromisso com séries temáticas – fundamentos cognitivos da inteligência artificial, o papel da tecnologia na arte contemporânea, o futuro da tecnologia médica, ideologia 4, a revolução industrial, as crônicas da pandemia e outras – muitas vezes me deixa com a sensação de alguém que não foi a uma festa porque preferia manter o foco até tarde. É o famoso FOMO (sentindo falta) que aparece no palco da consciência com cada insight que vejo nascer – e deixá-lo morrer – em favor da manutenção de uma linha de produção sistemática.
Mas hoje eu farei de forma diferente. Compartilharei com vocês três idéias que tive sobre tecnologia nos últimos dias. O critério de seleção é simples: cada um parece valer um artigo, o que explica como tudo realmente funciona. Talvez um dia…
Tubarões razoáveis
A coisa mais importante que está acontecendo atualmente no campo tecnológico no país é o lançamento Pagamentos pelo WhatsAppEmbora não goste de bancos que não oferecem BB, Sicredi ou Nubank, o sistema é extremamente confortável para o consumidor final, que pode se livrar de hardware que requer manutenção constante (cartões de plástico, sempre sujeitos a perdas e danos), além de enviar dinheiro para outros, sem as várias limitações de TEDs e DOCs. Nesse sentido, a idéia é tão atraente quanto a abolição do uso obrigatório de cintos de segurança.
Veja bem, a maioria das rotas que dirigimos são curtas e têm muito pouco risco. Por que diabos eles usam cintos de segurança, certo? Essa é a sensação que todos temos quando o sensor toca no estacionamento do shopping. Acontece que não há uso obrigatório do cinto porque é necessário no momento, mas porque deve ser condicionado que a maioria das pessoas o use em todas as outras ocasiões. O que salva vidas.
Os pagamentos do WhatsApp têm uma taxa MDR mais alta (taxa de rejeição do comerciante – taxa cobrada ao vendedor) maior que o modelo (até 100% maior). Claro, há momentos em que vale a pena pagar um pouco mais por conforto. Acontece que seu lançamento funcionará como a abolição do cinto de segurança obrigatório: as pessoas simplesmente o esquecerão detalhe.
A principal conseqüência será que os varejistas terão que aumentar o preço de seus produtos para obter lucro no Facebook e em seus parceiros operacionais (já que o Facebook é ampla e justamente considerada uma das empresas mais prejudiciais do mundo atual), dando à equipe um desconto.
Este modelo de pagamento de aplicativos não é novo no mundo. Pelo contrário, o WhatsApp está tentando afastar o WeChat, um expoente do modelo de superaplicativo, como expliquei neste artigo sobre métodos de pagamento e blockchain.
Na China, a superaplicação – uma aplicação que serve a propósitos sociais, comerciais e de telecomunicações – criou seu próprio ecossistema no qual a digitalização financeira é a base. Isso, por sua vez, mudou a mentalidade dos chineses em relação à importância do banco digital, além de um forte jogo contra o uso do papel-moeda no país.
Esta é a parte óbvia, que serve como pano de fundo. O que não é óbvio é o seguinte: esse arranjo foi crucial para a implementação do primeiro grande moeda digital nacional (CBDC)Ao adicionar o WhatsApp ao sistema bancário com o Pix, o sistema de pagamento da BC, que promete transações atuais 24/7, a partir de novembro, criaremos um cenário ideal para a digitalização do Real.
Assim como os pagamentos pelo WhatsApp e a liberação do cinto de segurança, os CBDCs trazem benefícios imediatos para a maioria da população. No entanto, a vida dos excluídos do universo digital (classe D, idosos e outros) é dificultada, aumentando a desigualdade. Paralelo, criar oportunidades de perseguição econômica e concorrência desleal no sistema financeiro.
O sucesso do projeto WhatsApp deve diminuir o incentivo da população brasileira ao uso do papel-moeda e forçar o banco digital de classe C e D. Se, de fato, o Pix deixar, serão criadas condições para a implementação do Real digital – ou, como faria mais sentido em outra política contexto – a moeda digital Mercosul.
Olímpico Brasileiro no FBI
Em 12 de março, o UOL publicou um artigo intitulado “Como Lava Jato ocultou visitas do governo federal pelo FBI e promotores dos EUA”, em parceria com a Agência Pública e o Intercept Brasil. Ele informou que, em 10/2015, o grupo de trabalho Lava Java do Paraná recebeu visitar delegações compostas por advogados dos EUA e membros do FBI, entre outras coisas, que não seguiram os ritos tradicionais desse tipo de relacionamento, a saber, o pedido oficial de cooperação (MLAT), que deve estar centralizado no Ministério da Justiça brasileiro.
A Agência Pública e o Intercept Brasil publicaram um artigo de 1/7/2020 “FBI e Lava-Jato” que, entre outras coisas, destacou a cooperação do Brasil com o FBI para quebrar a criptografia de My Web Dan, do famoso setor operacional estruturado da Odebrecht, que usaram a metodologia True Crypt para proteger os dados.
Segundo o órgão público:
Com base no relatório, Lava Jato confirmou que “os dados do sistema Drousys, submetidos ao MEF sob um acordo de penalidade assinado pelo Grupo Odebrecht, já haviam sido objeto de um exame pericial submetido ao judiciário brasileiro. fornecendo evidências de várias investigações e acusações criminais. “A resposta completa está no final da história. No entanto, foi somente em agosto de 2017 que os promotores da Lava Jato entregaram oficialmente cinco discos rígidos com dados do software My Web Day copiados sob o contrato. Ainda faltam arquivos para decifrá-los – e novamente Lava Jato precisava da ajuda dos americanos.
O texto não diz que o FBI acessou os arquivos, mas muitas pessoas entenderam isso sozinhas. Consistente com essa possibilidade, pesquisas sobre esse tópico indicam que (1) o TrueCrypt, que é de código aberto, foi descontinuado em 2014; (2) os próprios desenvolvedores aconselharam seus usuários a parar de usá-lo; (3) algumas vulnerabilidades foram descritas na Internet desde 2015; (4) O site TrueCrypt apresentou a seguinte mensagem:
“O desenvolvimento do TrueCrypt foi concluído em 5/2014. Após a Microsoft descontinuar o suporte ao Windows XP. O Windows 8/7 / Vista e mais tarde oferecem suporte integrado para discos criptografados e imagens de disco virtual. Esses sistemas integrados também estão disponíveis em outras plataformas (clique em aqui para obter mais informações.) Você deve migrar todos os dados criptografados com TrueCrypt para discos criptografados ou imagens de disco virtual compatíveis com sua plataforma “,
(5) Pierluigi Paganini, um conhecido hacker e especialista em segurança, disse: “O especialista em segurança popular James Forshaw descobriu duas falhas importantes no driver que o TrueCrypt instala nos sistemas Windows”.
(6) Em 2014, o FBI acessou a participação criptografada de Christopher Glenn, que copiou os planos militares dos EUA e os protegeu usando TrueCrypt. Eu tinha dez anos de prisão, Este evento foi seguido por um desligamento do TrueCrypt. Houve um desligamento repentino porque o FBI teve acesso ao algoritmo criptográfico, que o tornou vulnerável a partir de agora? É isso que muitos estão pensando hoje.
Desta vez, o cenário tem uma atmosfera de uma série: para ajudar os americanos, o FBI acessou à força os documentos da Odebrecht, mas nunca foi revelado. Lei? Hmm, na minha opinião, errado.
Deixarei a parte retórica de lado e focarei em dois pontos simples. O primeiro é prático. Meia década antes dos eventos da Odebrecht, o FBI passou um ano tentando quebrar a criptografia do disco rígido de Daniel Dantas, no contexto da Operação Satiagraha. Entenda a operação, incluindo algumas das muitas coisas que deram errado.
Em 2012, o FBI tentou quebrar a criptografia de arquivos associados aos famosos Panama Papers e também encontrou burros na água. Vale ressaltar que, nesse caso, o algoritmo não era TrueCrypt, mas seu sucessor, conhecido como Vera Crypt; no entanto, eles são bastante semelhantes. No ano seguinte, foi a vez de David Mirand ter arquivos confidenciais, protegidos pelo TrueCrypt, revisados pelo FBI. O resultado? Sem B.O.
Mas, afinal, e o caso de Christopher Glenn? Durante o julgamento, ele se declarou culpado; é bem possível – provavelmente, ouso dizer – que ele tenha dado acesso aos documentos enquanto negociava sua sentença.
O segundo ponto é técnico. True Crypt usa um padrão criptográfico conhecido como AES 256 bits, que é tão forte que nem os computadores quânticos do futuro podem quebrá-loDe fato, quando você ler que computadores quânticos poderão quebrar toda a criptografia existente etc., ignore-a. É estupido. Na realidade, existem dois tipos básicos de criptografia: assimétrica e simétrica. O último não está sob nenhuma ameaça, embora em certo sentido seja mais simples.
Tudo isso sugere que a capacidade de decifrar senhas criadas com ferramentas de código aberto, como True Crypt / Vera Crypt, que estão disponíveis para todos, excede as capacidades do FBI, da NSA e de qualquer pessoa que queira se aventurar nesse campo. Isso se deve à falta de qualquer método “cripto-analítico” para o AES 256, o que é surpreendente, pois é quase tão antigo quanto a World Wide Web (1997, 1989). Existem métodos para tentar recuperar chaves armazenadas em sua própria memória e investigar outras vulnerabilidades e deslizes.
Minha ingenuidade, que não conheço os laboratórios ultra-tecnológicos da inteligência americana? Então deixe-o provar o contrário, começando pelo arquivo Dantas!
Reflexões sobre a universalização de Jesus (autor: um ateu benevolente)
A questão das vidas negras mudou o novo normal como se fosse velho: pessoas nas ruas, gritos de guerra e muitas, muitas pessoas presas. Os resultados aparecem em todos os lugares. Uma parte está diretamente relacionada ao trabalho da polícia, que é o que se trata escreveu aquiO segundo é muito mais geral e inclui, entre outras frentes, a demolição de estátuas de pessoas que contribuíram para o apartheid mole (e duro) que chega aos dias atuais.
A esse respeito, parece que chegou a hora de enfrentar uma pergunta fundamental: o Jesus loiro que famílias de todas as cores grudam na parede – um homem branco de Oxford, bem definido pelo comediante inglês Eddie Izzard.
Antes que alguém suponha que esse seja um mecanismo moderno de dominação, lembremos que Jesus de Oxford é uma reinterpretação renascentista (veja a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci) de imagens e outras formas de representação que já o caíram um pouco. Também é verdade que diferentes perfis de Jesus se tornaram canônicos ao longo da história, em diferentes partes do mundo. Vale a pena acessar este artigo da revista National Geographic e conheça as principais versões. Alguns são muito interessantes.
Considerando essas reservas, deve-se considerar que Jesus de Oxford, associado à representação eurocêntrica de Deus, desempenhou um papel importante na colonização africana; de fato, até hoje, imagens desse tipo ainda estão espalhadas pelo continente, como destacado Willem Oliver, Universidade da África do Sul, Seja aqui, aqui ou na Ásia, parece que o mundo só pode ganhar com a revisão dessa questão. Vamos ver, a premissa da representação religiosa de Jesus é que ele personifica a pureza do espírito, bondade e retidão, de modo que, a partir da identificação projetiva, ele catalisa um senso de confiança, solidariedade e compaixão.
12 Uma das consequências da efetividade da primeira associação é maior segurança interna em homens com pele e olhos claros. Esse efeito foi confirmado em um estudo recente do Instituto Locomotiva, que replicou percepções implícitas e explícitas de cores e outros atributos em uma grande amostra nacional – e o que se aplica ao Brasil, onde os brancos de olhos brancos são minoria, se aplica em grande parte. mundo.
A maneira mais simples e imediata de abordar essa questão é através da antropologia forense, capaz de recriar uma imagem plausível do verdadeiro Jesus (supondo que ele existisse, um tópico não discutido aqui). Esta não é uma tarefa fácil, porque não há vestígios no corpo, esqueleto ou DNA. No entanto, como Mike Filley se lembra com carinho: “de acordo com o evangelho de Mateus, quando Jesus foi preso no jardim do Getsêmani, antes de sua crucificação, Judas Iscariotes precisou indicar aos soldados quem era Jesus, porque eles não podiam distingui-lo de seus discípulos”.
Partindo do pressuposto de que sua aparência é comum, o projeto de antropologia e arte forense recriou o perfil do Filho de Deus em 2015. Você pode encontrar o resultado aquiPensar nesse perfil à luz dos atuais protestos anti-racistas leva ao máximo que a “imagem pública de Jesus” precisa ser completamente redefinida. O efeito desta revisão não pode ser subestimado. Obviamente, Jesus não era branco e, como muitos outros, foi morto por sua oposição aos poderosos.
Este é o plano de fundo, o básico. Por trás disso, surge a questão de que o relacionamento que os cristãos estabelecem com Jesus vai além da iconografia. Para subestimar esse debate, que em minha opinião é absolutamente importante, o naturalismo da reconstrução forense significa acabar com a oportunidade de algo muito mais interessante, imaginativo e significativo – essa é uma reflexão que eu gostaria de compartilhar.
No meu entendimento, a melhor maneira de redefinir a imagem de Jesus não é a antropologia forense, mas passar pela aplicação de técnicas combinatórias de imagem, baseadas na inteligência artificial, para mesclar todos os registros masculinos do mundo (que pena que seja um) em um. Essa seria a representação de Jesus: sempre mudando, evoluindo junto com a humanidade, unida em sua multiplicidade – afinal, esse era o espírito da coisa, certo?
Para fazer isso, deve-se começar da extinção: uma combinação imprudente de todos os registros disponíveis em imagens privadas (onde as imagens podem ser compradas) levaria a uma amostra de preconceitos semelhantes aos que compõem algoritmos prejudiciaisSegundo, essas imagens são falsas. Seria melhor lançar um projeto global para novas coleções, o que poderia trazer o maior número possível de desafios à privacidade.
Finalmente, há o problema mais sério de que isso apagaria novamente a representação da verdadeira origem étnica de Jesus, em favor de algo que, por definição, não existe. Para ajustar as reservas que este último traz, acho que o ideal seria ancorar (leia-se: atribua um grande peso amostral) a uma imagem criada por antropólogos forenses em 2015. Se esse ponto for preservado, seria importante incorporar imagens de pessoas de todas as nações do mundo. , na mesma velocidade, independentemente do tamanho ou do número total de imagens disponíveis. Muitas pessoas mordem o nariz, mas, pelo menos, teríamos algo novo – e completamente excluídos do discurso empobrecido do novo normal: o primeiro projeto religioso de entretenimento do milênio.
tudo bem? gostei muito do seu site, parabéns pelo conteúdo. 😉