Se nos voltarmos para a história da construção das cidades brasileiras, podemos observar os reflexos do mecanismo colonial, que, mesmo após plena colonização, opera a toda velocidade para manter as desigualdades sociais e raciais.
Esse mesmo mecanismo era conhecido em outros países como o Apartheid, e isso nada mais é do que as políticas de segregação racial desenvolvidas na África do Sul no século 20 e que logo se espalharam para outros países, especialmente na Europa e na América do Norte.
O Apartheid pretendia limitar o acesso dos negros a recursos, espaço e posições de prestígio no período pós-abolição. Assim, manteve o poder centralizado nas mãos da hegemonia branca e dos negros em subordinação ou inexistência, pois o genocídio sempre operava em paralelo com todos os sistemas discriminatórios baseados na supremacia racial.
No Brasil, a ilusão de democracia racial com a idéia de “um país de todas as cores e raças em que somos iguais” há muito tempo sustenta o funcionamento do racismo estrutural, não permitindo que muitos de nós gerem imediatamente reflexões críticas sobre certos formatos, regras, comportamento na estrutura, mesmo que isso nos fez sentir desconfortáveis com a injustiça.
Por isso, crescemos acreditando que o Brasil, diferentemente de outros países, não possuía o apartheid; no entanto, se aprofundarmos nossa visão crítica dos processos históricos e do desenvolvimento urbano, perceberemos rapidamente que a segregação / apartheid social e espacial e racial sempre existiu como elemento mecanismo do racismo. velocidades de monopolização de energia.
Após a abolição em 1888, com um grande contingente de negros libertados se estabelecendo em centros urbanos, os descendentes euro da elite política logo tentaram criar um mecanismo para a reforma urbana. Ao contrário do real significado de “reforma urbana”, que visa democratizar e adaptar as cidades para fornecer acesso a todas as classes sociais, aqui a reforma se concentrou em seu projeto de gentrificação que expulsou a população negra dos centros urbanos. , dar as boas-vindas aos novos imigrantes europeus que trabalham nas indústrias e lançar os afrodescendentes ao seu destino.
Essa população racialmente segregada foi forçada a ocupar periferias, quilombos, subdivisões, áreas rurais e outras áreas isoladas. A negação de territórios negros no Brasil é comum, na centralização de recursos em grandes metrópoles e em centros urbanos, que têm maiores investimentos em infraestrutura, educação, saúde, concentração de renda, etc., beneficia diretamente seus moradores locais, que são maioria proporcionalmente branca. Por outro lado, as áreas não urbanas sofrem com a falta de subsídios e condições precárias para os recursos presentes.
Como resultado, ainda hoje negros e negros, não-negros e não-negros, pobres, residentes em territórios marginalizados são obrigados a se mudar diariamente para trabalhar em grandes centros, usando estrutura e / ou até servindo-se de recursos básicos que também são monopolizados em esses espaços, como bancos, escolas, universidades, espaços de lazer etc.
Essa jornada para salvar eventos históricos e atuais em suas configurações nos permite entrelaçar e refletir criticamente sobre o funcionamento do racismo no contexto da construção e mobilidade das cidades em suas projeções segregacionistas.
Entender o outro lado da história é essencial para disseminar nosso conhecimento e desempenho na luta contra a desigualdade e o racismo no Brasil. É importante não diminuir a complexidade da abordagem das possibilidades, “merecer” e cair nas ilusões históricas daquilo que Chimamanda Ngozi chamaria de “perigo de uma história única”.
Essa reflexão também é um apelo para reconsiderar e expandir o programa em torno do debate sobre mobilidade e lutas anti-racistas. O direito à cidade é o acesso a recursos que pavimentam o caminho para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.