Até 63 raças humanas foram classificadas ao longo da história, mas em 1994 a Associação Antropológica dos Estados Unidos se distanciou do conceito e provou uma falta de base científica.
Desde a sua criação no século 18, a antropologia física se concentrou no estudo dos restos mortais de esqueletos humanos. Seu objetivo era observar fenômenos evolutivos e variabilidade humana.
À medida que novos territórios e populações foram descobertos, era necessário, segundo os naturalistas europeus, classificar os seres humanos de acordo com suas características.
No reino animal, a discussão de raças geográficas consiste em definir grupos de indivíduos que diferem em características adaptadas ao tipo de ambiente. No que diz respeito aos seres humanos, o conceito tinha uma conotação muito diferente.
De fato, a diversidade humana não era percebida como uma escolha de ambiente (como cor da pele e formato dos olhos).
Em vez disso, é interpretado como refletindo as características culturais de uma grande população do planeta.
Por exemplo, os traços europeus eram considerados “superiores, equilibrados, bonitos” e eram um reflexo externo da “inteligência e educação” que caracterizavam todos os europeus.
Eles se consideravam a raça “suprema”.
Os traços africanos, por outro lado, eram considerados “primitivos e pouco atraentes”, um símbolo da população “ignorante e incivilizada”, segundo naturalistas e antropólogos do século XVIII.
Criando uma hierarquia
O contexto histórico favoreceu uma investigação dedicada à classificação das espécies humanas.
O colonialismo e a escravidão foram os motores que levaram os europeus a buscar apoio científico para justificar suas ações contra os povos indígenas.
Uma das primeiras ferramentas usadas para distinguir diferentes “raças humanas” foi a craniologia, o estudo das características métricas e morfológicas do crânio humano.
Para isso, foram medidos os crânios dos principais grupos populacionais conhecidos.
Cada um recebeu um padrão preciso de características (globular, crânio alongado etc.) que correspondiam a qualidades intelectuais mais ou menos desenvolvidas.
Assim, uma hierarquia social e cultural foi estabelecida entre grupos humanos.
Devido a Blumenbach (1752-1840), a morfologia do crânio começou a ser usada sistematicamente como parâmetro para determinar a raça de origem de um indivíduo.
Sua metodologia se espalhou para todas as coleções osteológicas europeias no século XVIII.
Esse interesse pelas características cranianas foi alimentado principalmente por Franz Joseph Gall (1758-1828), que defendia a hipótese de que a morfologia krafonos específica corresponde a certas características intelectuais.
Assim nasceu a frenologia, hoje considerada pseudociência.
Os últimos defensores da raça humana
Muitos antropólogos físicos e geneticistas se destacaram da imagem que o totalitarismo e o colonialismo queriam dar à variabilidade humana. Para esse fim, eles forneceram evidências e estudos científicos.
Observa-se uma inconsistência no conceito de raça, principalmente porque nunca houve uma classificação inequívoca dos parâmetros utilizados.
Ao longo da história, duas a 63 raças humanas foram classificadas, o que é um pesadelo para os estudantes de antropologia.
Também é importante notar que os primeiros naturalistas e antropólogos a tentar dividir a humanidade em raças usavam parâmetros suscetíveis ao meio ambiente, o resultado da evolução e a seleção de características fisionômicas do ambiente. Por exemplo, cor, tamanho e morfologia da pele.
Em 1994, a Associação Antropológica Americana se distanciou desse conceito ultrapassado e comprovou sua falta de base científica.
É errado definir fenômenos dinâmicos como a enorme variabilidade humana e a história da evolução humana por um conceito estático e estéril como “raça”.
No campo da antropologia forense, o ramo da antropologia física, quando restos são encontrados, é crucial determinar sexo, idade, altura e origem geográfica.
Para se afastar da conotação social da palavra “raça”, a ciência precisou mudar sua maneira de nomear a população humana e aceitar a existência de uma espécie: Homo sapiens.
A terminologia variava de raça a ancestralidade. Isso se refere às características herdadas dos pais e ancestrais de uma pessoa.
Essa mudança também foi necessária porque não é verdade que um indivíduo pertença a uma área específica. A globalização mudou a distribuição das características fenotípicas (aquelas que vemos representadas em uma pessoa).
A pesquisa não foi realizada apenas na parte morfológica do esqueleto humano. Testes genéticos e moleculares no campo da antropologia molecular foram testados.
Em um estudo de 1972 do professor Richard Lewontin, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, foram analisadas proteínas no sangue de diferentes populações.
Os resultados não mostraram diferenças significativas do ponto de vista molecular na separação de raças humanas.
Estudos subsequentes ajudaram a estabelecer que a sequência básica (unidades que compõem a informação genética) no DNA humano é 99,9% idêntica, o que interpretou completamente o argumento de encontrar um parâmetro confiável para a definição de raças.
Esses dados foram importantes para apoiar a igualdade dos seres humanos do ponto de vista científico, imparcial e rigoroso.
A ideia de uma corrida no nosso tempo
Nos tempos modernos, ainda existe uma derivada direta do conceito de raça: racismo.
Sabemos as terríveis conseqüências que isso teve para os terríveis genocídios cometidos no século XX.
Como disse o físico Albert Einstein, “é mais fácil desintegrar um átomo do que preconceito”, uma afirmação ainda atual.
Infelizmente, temos que admitir que ainda existem aqueles que pensam que existem “raças” humanas.
Isso, apesar do fato de a ciência provar que não há evidências suficientes ou base rigorosa para defini-las em humanos.
Além disso, o mundo científico está trabalhando por unanimidade para defender a igualdade entre diferentes grupos humanos e remover construções pseudocientíficas de uma realidade aceita biologicamente e legalmente.
Sejam os restos mortais de um rei poderoso dos tempos medievais, um escravo egípcio, um migrante que morreu às nossas costas ou uma figura importante no mundo do entretenimento, a verdade universal que os ossos choram é que somos humanos.
Sob a pele somos todos iguais.
* Lorenza Coppola Bove é professora de antropologia física na Pontificia Comillas University, na Espanha.
Este artigo foi publicado originalmente na revista digital The Conversation e é reproduzido aqui sob uma licença Creative Commons. Clique aqui leia o artigo na versão original.