São famílias que não têm mais condições de pagar seus empréstimos e tiveram que chegar a um acordo extrajudicial com os bancos, em grande parte por causa da crise gerada pela pandemia. No total, são 397 mil novos processos abertos pelos bancos no primeiro semestre deste ano. São de devedores que não pagaram 302 mil contratos de crédito, no valor total de 2,2 mil milhões de euros. Essas famílias, se já estivessem em atraso, não puderam aderir aos esquemas de moratória de crédito que lhes permitiriam suspender o pagamento de seus benefícios até o final de setembro de 2022.
Os dados constam do relatório sobre a Atividade de Supervisão Comportamental do primeiro semestre de 2020, divulgado ontem pelo Banco de Portugal.
“No crédito ao consumo, as instituições notificaram 359.731 novos casos de PERSI – procedimento extrajudicial de regularização de situações de incumprimento, 13% mais do que no segundo semestre de 2019, cobrindo 302 076 contratos de crédito e um montante em dívida de 785,8 milhões de euros”, diz o relatório .
Entre 27 de março e o final de agosto, os bancos receberam 788 mil pedidos de adesão à inadimplência. Dos aprovados, 43% referem-se ao crédito à habitação.
Empréstimos hipotecários
No mesmo período, foram concluídos 340 091 processos PERSI envolvendo 272 629 contratos de crédito ao consumo, correspondendo a um valor total em dívida de 726,9 milhões de euros; 41,1% desses processos foram encerrados com a liquidação de não conformidades, contra 42,7% no semestre anterior.
“No crédito à habitação e ao crédito hipotecário, as instituições iniciaram 37 357 processos PERSI, mais 11,2% do que no segundo semestre de 2019, envolvendo 30 827 contratos e um valor total em dívida de 1449,1 milhões de euros”, acrescentou.
No mesmo período, os bancos encerraram 35 411 processos, correspondentes a 26 708 hipotecas e crédito à habitação e um valor total em dívida de 1271,7 milhões de euros; 69,6% foram concluídos com a liquidação da inadimplência, o que compara com 68,3% no semestre anterior.
Serviços mínimos
Os consumidores continuaram aderindo às contas mínimas de serviço bancário. No primeiro semestre, “foram constituídas em Portugal 15 529 contas mínimas de serviço bancário”. Destes, 78,5% foram criados por “conversão de uma conta de depósito à vista existente”.
Também foram encerradas 1666 contas, 85,2% das quais por iniciativa do cliente. Em 30 de junho, existiam 117 491 contas mínimas de serviço bancário, mais 13,4% do que no final de 2019.
O custo do levantamento de dinheiro no balcão de um banco aumentou 17,3% em seis meses, e tem um custo médio de 4,36 euros por levantamento.
Reclamações sobem 12,5%
Foram mais de dez mil reclamações que chegaram ao supervisor. O Novo Banco foi o mais visado nos depósitos e o Banco CTT o maior número de reclamações no crédito à habitação. No crédito ao consumidor, ele liderou o Banco Volkswagen.
Elisabete Tavares é jornalista do dinheiro vivo