Cultura local, religião, receitas tradicionais, história da sua cidade. Quanto você aprendeu com as histórias de suas avós? Graças ao conhecimento de que as analfabetas falaram oralmente, a professora Maria Isabel Gonçalves (33), uma das vencedoras do prêmio Educador Nota 10 em 2020, está ajudando a remodelar a vida dos jovens do ensino médio no interior da Bahia.
Ela se formou em Escrituras e Filosofia, ensina na Universidade Estadual Rui Barbosa em Boninal, uma cidade de pouco mais de 13.000 habitantes na região da Chapada Diamantina, a 530 km de El Salvador, e sempre notou o desejo dos jovens de deixar o local em busca de uma vida diferente.
“A maioria das pessoas quer ir a São Paulo para trabalhar. Elas não gostam de história aqui, não pensam em continuar. É uma região afrodescendente, com uma porcentagem de quilombol, mas não reconhece sua própria cultura, origens ou origens próprias. direitos. “
A solução que encontrou foi usar o conhecimento oral de suas próprias avós para recuperar a história da região, para que pudessem valorizar o local em que nasceram e moravam. Além disso, ele os ensinou a entender melhor seus direitos. Assim nasceu o projeto “Filosofia da minha avó: a poetização da memória para a confirmação dos direitos”.
Histórias de ontem válidas hoje
A lição de casa que o professor deu aos alunos foi simples: registre, em áudio ou vídeo, as histórias de suas avós; depois, fotografando os lugares, objetos ou paisagens que apareceram nos relatórios. A base teórica é francesa Henri Bergson à filosofia africana Ubuntu, e quer criar uma reflexão sobre a região.
Corrente filosófica Ubuntude fato, ela inspirou Mary Isabel, porque elaanalisa como as relações entre as pessoas e o local em que vivem são parte fundamental da compreensão da sociedade. É muitas vezes resumida na frase “eu Sou eu Porque nós somos “.
Estudando filosofia africana, tive a idéia de tentar encontrar traços dela na cultura das comunidades negras aqui na Chapada. Quando me deparei com ela[[[[Ubuntu], Eu a vi falando sobre o coletivo. Toda a nossa proposta tinha que ter uma visão desenvolvida da comunidade, tinha que começar a partir daí. Eu queria mostrar que existe uma filosofia em nosso mundo, que nossas avós têm conhecimento
Não só ele fez memórias das aldeias – até então registrado- ser salvos porque também incentivou os jovens a ter opiniões positivas sobre onde moram.
“Quando perguntei sobre a vila, eles responderam com desaprovação. Acho que há um buraco aqui.” Não há professores. “Eu queria que eles entendessem a riqueza que esse mundo de pessoas tem”, diz Maria Isabel.
O projeto começou no terceiro ano do ensino médio. Depois de filmados e produzidos, cada grupo apresentou o que eles compraram para a escola em um evento de final de ano. O resultado, ele diz feliz, foi “muito além do imaginário”. Após alguma hesitação, um dos grupos de troféus aceitou a ideia. Então ele começou a entrar em contato com o professor apenas para contar com cada etapa da produção com entusiasmo.
A iniciativa coletou reportagens divertidas e emocionantes, fotos das belas paisagens do platô da Bahia e até músicas com histórias locais. Mas não foi só isso: ajudou a transformar o relacionamento dos jovens com o espaço local.
De os grupos, diz o professor, visitaram fontes termais. Alguns rios enchem apenas de chuva. Como era uma estação seca, eles estavam morrendo. “Eles filmaram tudo e falaram espontaneamente sobre o sonho de revitalizar essas fontes”, diz Gonçalves.
Não foi apenas uma conversa. Este ano, já treinados, alguns estudantes procuraram os agentes regionais do Ibama para revitalizar a área.
“Eles ficaram noivos, começaram a conversar com pais e avós sobre a situação, falando sobre o impacto das ações humanas na natureza. Os idosos pensam que a natureza morre porque é, e agora querem explicá-la”, relata ele com orgulho.
Relatórios dos avós
A idéia para o relatório veio da experiência da família. Maria Isabel cresceu em uma área rural do município de Seabra, ao lado de Boninal. Os pais trabalhavam nos campos, cultivando tabaco. A cidade era um todo figurativo, um mundo distante, que ela e seus amigos procuravam quando desafiavam os limites da floresta.
“O mundo das pessoas [na área rural] é muito diferente Quando eu era pequeno, não tinha livros, apenas didática na escola. No meu primeiro contato [com literatura], Fui demitido. “A leitura transformou minha vida”, diz ele.
Sem televisão e com poucos livros, Maria Isabel cresceu ouvindo as histórias de sua mãe, que contavam as aldeias e a bisavó Iai Lia, parteira e oração que acabou se tornando a líder negra da comunidade.
Uma viúva criou filhos há 30 anos. Não foi pago com dinheiro, mas com galinhas, pratos de feijão ou qualquer porção de comida. Analfabeta, ela basicamente transmitiu suas famílias e outros residentes para a conversa.
Como Lia morreu alguns meses após o nascimento de Maria Isabel, a professora não a conhecia. Suas histórias, no entanto, abriram seus horizontes.
“Essa narrativa foi meu primeiro conhecimento do mundo. Analfabeta é a pessoa que ensinou. Foi concebida para transmitir esse conhecimento da mulher negra como conhecimento filosófico”, explica o professor. “As pessoas aqui também têm uma filosofia.”
A educação como meio de transformação social
A consciência da origem é apenas um lado do projeto. É um ponto central, diz o professor, para os alunos entenderem que têm direito a um futuro diferente do de muitos compatriotas que deixam a vila.
“O sistema educacional foi projetado para não funcionar. As pessoas que estão lutando lá sabem. O mundo sabe disso [os jovens] desprezam o lugar onde moram e muitos acabam indo para São Paulo como operário da construção civil ou como empregados domésticos. Essa base já é tão complicada que eles nem têm chance de ir para a faculdade “, diz ele.
O objetivo de Maria Isabel, juntamente com outros professores que ensinam na região, é usar a escola como uma importante fonte de transformação social para ajudar esses jovens a ver um futuro melhor.
“Proposta final [do projeto] é que eles exercem seus direitos à educação, saúde e um ambiente melhor, que são constantemente negados. Aqui, o jovem não tem acesso a nada, ele não tem uma biblioteca “, afirmou.
Aceitar todas essas mudanças sociais é uma questão que ainda está muito distante, ela admitiu, mas diz estar animada. “A escola é a única forma de transformação social, digo toda a minha vida. [A educação] transforma comunidades que têm muito a ensinar ao Brasil e ao mundo. “