O mecânico Carlos Alberto Borges, 39 anos, se acostumou à rotina incomum há pouco mais de um mês no bairro Pae Cará, o mais populoso de Vicente de Carvalho, no distrito de Guarujá, no litoral sul de São Paulo.
Por volta de 1 da manhã, ele ou qualquer pessoa em sua casa acorda diariamente com a ajuda de um despertador, numa tentativa desesperada de encher um balde com água. Segundo ele, é a única vez que as torneiras são abertas novamente.
“Ficamos sem água por quase um mês, lutando para tomar banho. Quando chega, não leva nem uma hora ”, disse Borges a Folhi.
O bairro mais atingido na cidade pela pandemia de Covid-19, com 776 casos confirmados e 124 mortes, também está puxando a linha devido à crise no abastecimento de água, que piorou há mais de um mês.
“Fomos buscar água onde pudemos. No meio de uma pandemia, não faz sentido ir à casa de outras pessoas, mas que horas são? Passo o dia inteiro enchendo garrafas. almoço Eliana Pereira dos Santos, 36 anos, moradora da comunidade do Estuário do Parque.
O problema no abastecimento de água não é novo no município e tende a piorar na alta temporada, principalmente na presença de turistas.
Desta vez, segundo a Sabespo, empresa sanitária de São Paulo, a ausência se deve à pior seca em 20 anos.
Até 2019, o fornecimento na cidade ainda ocorria em informalidade legal, ou seja, sem contrato, assinado apenas no ano passado por um período de 30 anos, com um investimento esperado de 780 milhões de dólares.
“Temos que voltar no tempo para explicar que a Sabesp atua na cidade há quase cinco décadas sem investimento, sem segurança jurídica. Fizemos isso, mas houve negligência histórica por parte de gerentes e empresas nos últimos anos”, disse o prefeito Walter Suman (PSB). .
Segundo ele, quase todos os bairros da cidade, até cartões postais turísticos como Ensead, sofrem com o problema.
Desde 2013, a cidade abastece a estação de tratamento de Jurubatuba, capturada nos rios Jurubatuba e Jurubatuba Mirim, com capacidade para 10 milhões de litros de água purificada.
REDUÇÃO
A estação opera a 2.300 litros de água por segundo. Atualmente, o rio está em uma condição preocupante e a quantidade de água fornecida não excede 840 litros por segundo.
Cidades vizinhas como Santos, São Vicente e Praia Grande, por exemplo, não enfrentam um problema semelhante, pois recebem água de outros centros.
“Geralmente a seca começa em junho. Este ano aconteceu em março. Além disso, estimamos que existam mais de 39.000 conexões ilegais no Guarujá. Estamos procurando soluções”, disse o supervisor regional Raul Christiano.
Para remediar o caos, a Sabesp explica que já disponibilizou mais de 21 caminhões-pipa para abastecer a população, com distribuição gratuita de tanques de água nos bairros considerados mais necessários.
“Nenhuma ajuda chegou aqui. Quando um pouco de água aparece, os vizinhos pedem para lavar as roupas, fornecê-las. É apenas entre nós”, relata Leonardo Pereira da Silva, 27, assistente de exportação.
A prefeitura, por sua vez, exige medidas mais concretas. A saída para resolver o problema seria uma antiga pedreira, localizada às margens da rodovia Cônego Domênico Rangoni, com capacidade para armazenar até 3 bilhões de litros de água.
O projeto de ativação da pedreira, além da construção de tubulações apropriadas, também exigirá licenças ambientais. O trabalho pode levar anos para tornar isso possível.
“A responsabilidade da Sabespa é acelerar, pedimos muito porque a população não pode esperar mais”, diz Suman.
Em meio ao caos e sem solução, a Câmara do Guarujá deve abrir uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) para cobrar pela falta de água no município. A inscrição será apresentada na próxima sessão.
“Minha intenção é nomear os responsáveis. Mesmo que seja esse o caso, proporemos uma acusação ao Ministério Público local. Logo poderemos entrar em um desastre hídrico. Não é possível apoiar mais dois ou três meses como esse”, disse o presidente Edilson Dias (PT).
O problema é objeto de investigação em investigação iniciada no último dia pelo Ministério Público de São Paulo, com base em relatório elaborado pela Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo).
O documento destaca as más condições nos reservatórios da cidade, com uma redução no fornecimento de água em mais de 31,3% nos últimos dois anos. Segundo o relatório, o número de reclamações aumentou 42,5% entre 2018 e 2019, exigindo um plano de emergência para minimizar os efeitos.
O ministério público diz que foram feitas perguntas à prefeitura e à Sabespa, mas que deram respostas evasivas e foram novamente questionadas.
Enquanto isso, a Sabesp diz que fornecerá os esclarecimentos necessários e continua investindo em melhorias para normalizar os suprimentos.