O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro disse em entrevista ao British Financial Times que o governo Jair Bolsonara usou sua presença na equipe ministerial como desculpa para provar que medidas anticorrupção foram tomadas. O ex-ministro disse que o governo não está fazendo muito e que esse programa sofre um impasse desde 2018, quando Bolsonaro foi eleito.
“Uma das razões pelas quais deixei o governo é porque não faço muito (por causa do plano anticorrupção)”, disse Moro à publicação. “Eles usaram minha presença como desculpa, então eu fui embora. O programa anticorrupção sofre obstáculos desde 2018”.
O Financial Times lembrou que a saída de Moro foi marcada por acusações de que o presidente Bolsonaro havia se envolvido politicamente na polícia federal. Uma investigação do Supremo Tribunal Federal está investigando as declarações do ex-ministro.
Moro comentou que a corrupção não pode ser combatida sem o respeito pelas leis e instituições. “Ele mudou o diretor da polícia federal sem pedir minha opinião e sem uma boa razão. Não acho que você possa combater a corrupção sem respeitar a lei e a autonomia das instituições que investigam e denunciam crimes”.
Moro também comentou a abordagem de Bolsonar ao Centrão, “um bloco controverso de partidos conhecido por oferecer apoio em troca de cargos políticos”, afirmou o jornal. “No começo, parecia que o governo estava evitando esse tipo de prática, mas hoje não tenho muita certeza.”
Na semana passada, o Estadão mostrou que uma das razões pelas quais os membros do Centraão se vincularam ao Bolsonar é precisamente o medo de uma possível candidatura presidencial a Moro em 2022.
Sem seu próprio candidato da centro-direita ou mesmo da centro-direita, o grupo teme que uma possível saída de Bolsonaro fortaleça a eleição do ex-ministro se o mandato de Bolsonarou for encerrado ou em 2022. Quando ele era juiz em Lava Jato, Moro era o diretor executivo de vários diretores do Centro.
O ex-ministro também comentou o vazamento de mensagens que lhe foram atribuídas pelos promotores da Operação Lava Jato desde que ele era juiz federal em Curitiba. As mensagens publicadas pelo jornal Intercept Brasil “prejudicam a reputação da operação”, afirma a publicação. “Não reconheço a autenticidade dessas mensagens. Nada poderia comprometer o caso”, disse Moreau.