Nem tanto nem um pouco: o que aconteceria conosco se o dióxido de carbono desaparecesse para sempre – 14.07.2020

É comum ouvir que as emissões de gases de efeito estufa são uma das principais causas das mudanças climáticas. Nesse contexto, o excesso de dióxido de carbono no ar leva a um clima cada vez mais quente e extremo no planeta. Então, o objetivo é remover o carbono da atmosfera, certo?

E o que aconteceria se isso acontecesse? Bem, a resposta é um caso típico de fusão que sai muito pior do que um soneto.

Uma estufa gigante

A vida na Terra é baseada em carbono. É capaz de estruturar moléculas orgânicas ligando-se a elementos como oxigênio, nitrogênio e hidrogênio. Além disso, é abundante e versátil na Terra: se pode se ligar a até quatro átomos diferentes, pode formar uma grande variedade de moléculas.

Tudo isso, é claro, se estiver no lugar certo. Está na atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO2, também conhecido como dióxido de carbono), que atua como uma esponja para radiação infravermelha irradiada pela superfície da Terra. Além disso? É a energia que o planeta envia ao espaço em resposta à energia recebida do Sol.

Os gases que absorvem essa radiação reemitem parte dela para a superfície do planeta e o restante para o espaço. Esse é o chamado efeito estufa, que geralmente pode ser considerado um dos principais fenômenos que possibilitam a vida no planeta.

Na Terra, 75% do efeito estufa é causado pela presença de água (na forma de vapor e gotículas) na atmosfera da Terra, enquanto 20% é responsável pelo dióxido de carbono e o restante à custa de outros gases, como o metano (CH4), o óxido nítrico (N2O). clorofluorocarbonetos (CFCs), hidroclorofluorocarbonetos (HCFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6).

O dióxido de carbono é apontado como o mais comum entre os gases de efeito estufa, por estar diretamente relacionado à atividade humana, seja pela queima de combustíveis fósseis, seja por processos como o desmatamento. Outra razão é que, diferentemente da água que possui um ciclo muito curto na atmosfera, o carbono permanece no ar por muito mais tempo. Isso facilita o aumento da concentração.

Sem extremos

Uma das principais vantagens do efeito estufa é não apenas manter a temperatura do planeta, mas também evitar desvios extremamente repentinos. Sem ele, teríamos um cenário semelhante ao de Marte, que tem uma temperatura média de superfície de -63 ºC – praticamente igual à que irradia no espaço, com máximos em torno de 35 ºC e mínimos próximos a -143 ºC.

No caso da Terra, o planeta irradia em torno de -19 ºC, mas a temperatura média da superfície é de 15 ºC. O máximo registrado no planeta foi de 58 ºC, enquanto o menor, -88 ºC.

O excesso de dióxido de carbono pode tornar a Terra um “galho” do planeta Vênus: ali a temperatura da superfície atinge mais de 460 ºC. E isso não tem nada a ver com o mais próximo do Sol, mas com o efeito extremo da estufa da atmosfera, que contém 96% de dióxido de carbono. Portanto, um planeta mais quente tem eventos climáticos muito mais extremos.

Está ficando mais frio

Sem carbono na atmosfera, a primeira conseqüência seria um resfriamento significativo do planeta. Não teríamos nada no nível de Marte; Finalmente, já vimos que o dióxido de carbono não é o único responsável pelo efeito estufa. O problema seria a sequência de eventos que o causaria.

A queda de temperatura resultante desse cenário significaria mais água congelada na superfície e menos vapor e gotículas na atmosfera – o que já desestabilizaria esses 75% da água no efeito estufa.

Como cerca de 71% da superfície da Terra é coberta com água corrente, se congelar, teríamos outro efeito: o albedo da Terra, que mostra o quanto sua superfície é capaz de refletir radiação, aumentaria significativamente. Isso significa que o planeta absorveria cada vez menos radiação solar, esfriando cada vez mais.

A terra estaria, portanto, a caminho, se não houvesse retorno à esfera gelada.

A ofensa é tão ruim quanto o excesso

A concentração de dióxido de carbono na atmosfera da Terra tem aumentado progressivamente desde a Revolução Industrial e é de cerca de 0,04% (aproximadamente 415 ppm ou partes por milhão de volumes).

estudo publicado na revista Nature salienta que a concentração de gás na atmosfera permaneceu constante e foi de cerca de 250 ppm durante o período evolutivo da espécie humana.

Portanto, sofre em situações de excesso de dióxido de carbono: acima de 1.000 ppm, a qualidade do ar já é considerada ruim; acima de 2000 ppm, pode causar problemas de saúde; e é fatal acima de 5000 ppm.

Sem gás na atmosfera, não precisaríamos nos preocupar com nossa saúde. Mas não por uma boa razão: porque é necessário para a fotossíntese das plantas, todos os seres vivos da cadeia alimentar que dependem de seres fotossintéticos se extinguiriam.

E nós estamos, é claro, nessa lista.

Os dois extremos já aconteceram na Terra. Primeiro, cerca de 700 milhões de anos atrás, no período criogênico, quando o planeta quase completamente se tornou uma bola de gelo. A situação foi revertida apenas porque a atividade vulcânica liberou dióxido de carbono na atmosfera, reaquecendo o planeta.

Mas, quatrocentos milhões de anos depois, com o período Carbonifer, aconteceu o contrário. Com uma grande presença de dióxido de carbono na atmosfera – cerca de 800 ppm, que é cerca de três vezes o nível da revolução pré-industrial -, os vegetais se multiplicaram na Terra.

fontes: Marcia Yamasoe, Professora Associada do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP); Fabio Luiz Teixeira Gonçalves, Professor Associado, Departamento de Ciências Atmosféricas, Instituto de Astronomia, Geofísica e Atmosfera, Universidade de São Paulo (IAG-USP)

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