O rapper Mano Brown e o médico Dráuzio Varella fizeram uma vida diferente hoje, na qual havia dois personagens para muitos incríveis, mas que têm muito a dizer. Sob a hashtag #manodraw, eles se reuniram para discutir questões atuais, como racismo estrutural, política brasileira e música.
Veja o texto completo abaixo
Já dissemos que a conversa valeu a pena
Em mais de uma hora, Dráuzio conduziu a conversa como um bom entrevistador, provando ser um grande fã de rap e extraindo frases e opiniões impressionantes do líder de Racionais, como esperávamos. E reservamos dez para você, em um show especial de “resumo” seguido por milhares de pessoas. Siga abaixo.
Você voa? Amanhã, às 18h, o feito que queríamos: Draw e Brown (@Mano Brown) no YouTube. Ative o lembrete e compartilhe com o público! https://t.co/a1IL0qdIbx #ManoDraw pic.twitter.com/Zid3zDzdiE
– Portal Drauzio Varella (@drauziovarella) 23 de junho de 2020
O que Mano Brown pensa sobre política e ideologias
Eu acho que o Brasil é corrupto para não abraçar a ideologia de alguém. Não muito à direita, muito à esquerda, nazistas. Sempre será um pequeno grupo que precisa lutar. Mas isso nunca vai pegar. O brasileiro, pelo que entendi, é realmente misto
Sobre o governo Lula
Vejo muitas pessoas à direita falando sobre minorias. Mas não foi fácil, mesmo durante o governo Lula. O governo deu uma condição. Mas ele sempre teve dificuldades. Ele estreitou a distância da possibilidade, mas isso não significa que o sol está próximo agora
Sobre o racismo brasileiro
A mentalidade racista está na mente de todos. Cada um em seu próprio lugar de fala. Toda situação é desfavorável. Todo mundo paga o preço. Ler um homem branco no meio de dois negros é que ele é uma vítima. Que devemos proteger os brancos. Isto é Brasil
Sobre George Floyd e os protestos americanos
A periferia lida de maneira diferente [com o racismo] e mesmo com a violência nos Estados Unidos. No Brasil, muito mais pessoas morrem assim. Mas os Estados Unidos são uma torre. Repercute. É bom para a raça negra ao redor do mundo
Sobre votar como arma
Não vejo pessoas envolvidas em nenhuma filosofia radical. Agora, ao votar, o cara pode estar com sede de sangue. Ele pode não querer um confronto físico, mas ao votar, ele desiste do outro. Se um cara tem problemas com um cantor de rap, ruim em formação, um homem ouvindo funk ao fundo ‘busão’ votará [contra ele].
Sobre quem diz que o rap causa violência
Não há como não encorajá-lo, mas não é proposital. (…) As pessoas já viveram essa realidade. Não sei por que as pessoas a admiravam. Estava na cara de todo mundo. Todo mundo sabia que a vida em preto era exatamente isso. Que ele tem que lutar. Todo mundo bebe da mesma fonte racista
Sobre como foi “sobreviver no inferno”, como diz o título do álbum Racionais
Essa sobrevivência não foi apenas da prisão, mas da rua, da vida. Alguns infernos. Eu estava tendo dificuldade em morar em Cohab na época. O rap sempre teve seus altos e baixos. Às vezes eu não tinha dinheiro para nada. Eu queria fazer uma peça em Quebrada, um homem morreu e ficamos sem trabalho por quatro meses
Sobre “prever” uma pandemia
Sonhei por meses com um sentimento semelhante. Eu tentei fugir e pessoas estranhas apareceram. Foi sinistro. Eu não me importei porque era estranho. Então eu sonhei novamente com o sentimento das coisas que estão por vir. O sol está se pondo, o medo no ar, o fim do mundo. Provei o sonho e fiquei com medo.
À violência que destrói Quebrada
Povão quer segurança. Você acha que todo morador de favela adora rap, funk? Não. A grande maioria acorda cedo, leva as crianças para a escola, caminha para pegar os ônibus. As pessoas precisam de paz. Eles também têm medo de perder um filho (…) Eles não podem ignorar o medo das pessoas
Para o que ele entende hoje como retrato brasileiro
É um Brasil feio sem maquiagem. Sempre foi isso. Essas coisas foram enviadas para lá. As pessoas já conversaram [no rap]Na realidade, a favela não tem medo de George Floyd, Covid. Deveria, mas não é. A luta por essas pessoas é constante. Acabou, vá para outra luta