Todos os jornalistas de uma rádio comunitária em Cabo Delgado, norte de Moçambique, estão a salvo depois de fugir para o mato após um ataque de rebeldes no distrito de Muidumbe.
“Os nove jornalistas que compõem a redação da Rádio Comunitária São Francisco de Assis já se encontram em áreas aparentemente seguras, depois de terem sobrevivido 15 dias na mata devido aos intensos ataques dos insurgentes”, explicou a entidade em nota.
Gradualmente e após percorrer longas distâncias a pé, com familiares, incluindo crianças, os sobreviventes conseguiram chegar a locais seguros.
“Depois de ter tido problemas de comunicação com os dois últimos [jornalistas] que se encontravam no mato, segunda-feira a Forcom recebeu a informação de que Beatriz Luís e Moisés José já se encontravam com familiares, no distrito de Montepuez ”, acrescentou.
No entanto, eles deixaram tudo para trás e agora vivem “em condições precárias”, como milhares de outros deslocados.
Tal como acontece com outros refugiados, alguns membros desse grupo de jornalistas perderam familiares, assassinados em Muidumbe pelos rebeldes que aterrorizam a província.
“Meu pai foi decapitado. Estamos morrendo de sede e fome, três dias sem comer nada e estou com meus sobrinhos. Estamos pedindo ajuda”, relatou um deles em mensagem telefônica citada pela Forcom em 9 de novembro.
A fuga já dura desde o atentado de 31 de outubro e o retrato que fazem agora, em declarações divulgadas pela organização, é de uma situação “descontrolada” com muitos corpos abandonados e crianças sozinhas, perdidas no campo.
Muidumbe foi o distrito mais recente tomado pelos rebeldes este ano, após ter ocupado outros durante vários dias, mantendo ainda o controlo de Mocímboa da Praia, uma vila costeira e uma das principais da província, de acordo com o mais recente relatório sobre o conflito, preparado por uma comissão parlamentar.
Entretanto, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, disse quinta-feira que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) recuperaram o quartel-general distrital de Muidumbe.
A violência armada em Cabo Delgado está a causar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação e sem alimentação, concentradas principalmente na capital provincial, Pemba.
A província onde está avançando o maior investimento privado da África para a exploração de gás natural está sob ataque de insurgentes há três anos e algumas das incursões são reivindicadas pelo grupo jihadista do Estado Islâmico desde 2019.