Paris, 9 de julho de 2020 (AFP) – Índios da América do Sul e polinésios viajaram milhares de milhas náuticas que os separaram por volta de 1200, como evidenciado pelo DNA presente na população atual, revela um estudo científico.
No entanto, não se sabe se os povos do que hoje é Colômbia e Equador navegaram nas pequenas ilhas da Polinésia no Oceano Pacífico ou se os polinésios viajaram em círculo para a América do Sul.
Mas é certo, de acordo com um estudo publicado quarta-feira na revista Nature, que a reunião ocorreu séculos antes dos europeus desembarcarem nas duas regiões, e o Novo Mundo deixou sua marca no DNA da população polinésia francesa.
“Essas descobertas mudam nossa compreensão de um dos capítulos mais famosos da história das grandes expansões continentais de nossa espécie”, disse à AFP o pesquisador Andreas Moreno-Estrada, do Laboratório Nacional de Biodiversidade do México.
Arqueólogos e historiadores debatem há décadas a possibilidade de que índios americanos e ilhéus do Pacífico possam ter se cruzado durante esse período.
– Batata-doce, tubérculo comum – Em 1947, o explorador e escritor norueguês Thor Heyerdahl embarcou na construção de uma jangada insegura, que ele chamou de Kon-Tiki (por causa do principal deus inca, Apu Kon Tiki Viracocha), e navegou do Peru quase 7.000 km em 101 dias. antes de aterrar em Tuamot, Polinésia Francesa.
Esta é uma das ilhas onde o DNA do Novo Mundo apareceu.
Heyerdahl estava convencido de que os povos indígenas do atual Peru habitavam essas ilhas remotas do Oceano Pacífico e queria mostrar que isso era possível. No entanto, sua hipótese seria apenas metade correta.
“Os polinésios são mais propensos a ir para os Estados Unidos por causa de sua tecnologia de viagens e capacidade comprovada de viajar milhares de quilômetros em águas abertas”, disse à AFP o principal autor do estudo, Alexander Ioannidis, pesquisador da Universidade de Stanford.
Até agora, a principal evidência é que esses povos cruzaram a batata-doce com os nativos americanos.
“Embora originalmente da América, foi encontrado nas ilhas a milhares de quilômetros (do continente) antes de qualquer contato europeu”, de acordo com Ioannidis.
Além disso, as palavras que descrevem esse tubérculo em polinésio são semelhantes às encontradas nas línguas nativas dos Andes.
Os céticos, por outro lado, argumentaram que brotos de batata poderiam atravessar o Oceano Pacífico por conta própria, por exemplo, em um pedaço de madeira úmida.
– Uma nova maneira de escrever a história – Os pesquisadores coletaram dados genéticos de 15 grupos indígenas da costa do Pacífico da América do Sul e Central e 17 ilhas da Polinésia, para um total de mais de 800 indivíduos.
“Estamos procurando longas filas de DNA com exatamente o mesmo código”, disse Ioannidis.
A coincidência de grupos indígenas na Colômbia e no Equador foi incontestável, o que é confirmado pelos métodos estatísticos tradicionais e pelas modernas técnicas de “big data”.
“Medindo o comprimento de pequenos fragmentos de DNA indiano presentes entre os polinésios, podemos estimar quantas gerações entraram em contato”. E a data que resultou nessa análise foi de 1.200.
Entre as grandes teorias que essa descoberta provavelmente desencadeará está a alegação de que Rapa Nui – mais conhecida como Ilha de Páscoa – é o local onde as duas culturas se encontraram pela primeira vez.
Segundo Moreno-Estrada, novos métodos de inteligência poderiam tornar possível descobrir histórias desconhecidas do passado.
“A genética e a ciência de dados agora nos permitem explicar as histórias mais incríveis e – não menos verdadeiras – do resto da humanidade”.
“Isso me motiva”, disse o pesquisador.
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