Gadget certo? Fim da maioria absoluta do PS nos Açores deixa tudo em aberto

Num parlamento com 57 deputados, o PS precisava de 29 mandatos para alcançar a maioria absoluta que tem se repetido nas últimas duas décadas nos Açores. Desde 1996, socialistas lideram a Região Autónoma, primeiro com Carlos César e depois com Vasco Cordeiro, a partir de 2012.

Contudo, tal como na primeira vitória eleitoral de 1996, também neste domingo – e pela segunda vez na história – o PS não conseguiu renovar a maioria absoluta alcançada nas eleições de 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016, tendo conseguido apenas 25 mandatos, com 39, 13 por cento dos votos.

Numa primeira reacção a estes resultados, o dirigente regional dos socialistas e actual chefe do Governo Regional, Vasco Cordeiro, sublinhou que o PS obteve uma vitória “clara e inequívoca” apesar de não gozar de maioria absoluta.

O governante disse que o PS continua a ser uma “referência de estabilidade” para os Açores, mas comprometeu-se a olhar para o que “obriga o quadro parlamentar” que resulta das eleições deste domingo.

Por último, o dirigente regional disse ainda estar disponível para trabalhar, “em diálogo, em concertação” para que “sejam os Açores e os açorianos que ganhem” condições para ultrapassar o contexto de pandemia.

Mas, em face de um parlamento mais fragmentado, outros partidos também estavam abertos ao diálogo. É o caso do PSD, que conseguiu assegurar 21 mandatos, alcançando 33,7 por cento dos votos.

José Manuel Bolieiro, dirigente do PSD Açores, sublinha que esta votação representa uma “mudança histórica” para os Açores, visto que, a partir de agora, é na Assembleia da República que se concentra a decisão política.

O Social-democrata felicitou ainda os partidos que alcançaram pela primeira vez assentos no parlamento regional, assumindo uma posição de “diálogo” na defesa dos interesses dos Açores.

Questionado sobre as coligações do PSD, José Manuel Bolieiro admite que estas eleições deixaram um “quadro polivalente” em que “tudo” pode acontecer, incluindo uma solução de liderança da oposição.

O líder regional laranja mostrou-se disposto a assumir responsabilidades, mas nunca por meio de uma declaração “unilateral”, ou seja, sem conversar com outras partes.

Sobre a disponibilidade para dialogar com Chega, que elegeu dois deputados, José Manuel Bolieiro afirma que o diálogo no parlamento “não exclui ninguém”.

“Devo afirmar hoje, como sempre, que as atitudes extremistas e populistas não me comovem, nem creio que interessem aos açorianos, mas penso também que os açorianos já provaram, e os seus representantes, que não o são. extremistas ou populistas ”, frisou.

Em reacção aos resultados, os dirigentes nacionais do PS e do PSD não quiseram interferir na constituição do governo regional e nas decisões das estruturas locais.

António Costa felicitou o PS Açores pela vitória, mas disse que cabe ao arquipélago partido encontrar as soluções.

Rui Rio destacou o resultado “francamente positivo” do PSD Açores, mas assumiu a dificuldade de projetar uma engenhoca à direita para governar o arquipélago.

O CDS-PP foi a terceira força política mais votada, com 5,5 por cento dos votos. O partido consegue eleger três deputados aos quais agrega outro parlamentar, em coligação com o PPM.

“Foi um voto útil a favor da mudança de que os Açores precisam”, disse Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS-PP, acrescentando que o partido “lidera a direita”.

Três novos partidos, CDU de saída

A eleição também é marcada por entradas e saídas significativas no parlamento regional. À partida, a CDU não conseguiu garantir a reeleição do único deputado eleito em 2016, com apenas 1,6 por cento dos votos.

O PCP reconheceu que o CDU teve “um resultado particularmente negativo” e que a não eleição de um deputado significa “empobrecimento democrático”. O cenário da eleição de 2004 se repete, quando os comunistas também não conseguiram garantir um assento no parlamento regional.

Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, afirmou na leitura do boletim de voto que os dois candidatos eleitos “são capazes de fazer o que precisa ser feito”.

No entanto, um dos grandes destaques da noite vai para a entrada de três novos partidos: Chega, que participou pela primeira vez neste ato eleitoral regional, estreia-se como quarta força política, com 5 por cento dos votos. O partido de André Ventura pode, assim, eleger dois deputados.

A Iniciativa Liberal, que disputou pela primeira vez na Assembleia Legislativa açoriana, obteve também 1,93 por cento dos votos, o que garante a eleição de um deputado.

O PAN, que já havia participado da eleição de 2016, consegue entrar no parlamento regional pela primeira vez este ano, garantindo um mandato.

Nesta noite eleitoral, o PPM conseguiu eleger outro deputado, além do representante em coligação com o CDS-PP.

Nota-se também para a abstenção nestas eleições, que foi de 54,58 por cento, a segunda maior de sempre, mas ainda abaixo da taxa de abstenção observada em 2016.

Há quatro anos, a abstenção nas eleições regionais açorianas atingia 59,16 por cento, um recorde absoluto nestes sufrágios. Praticamente em uníssono, todos os dirigentes partidários, regionais e nacionais, saudaram os açorianos por terem reduzido o número de abstenções naquele que foi o primeiro escrutínio em contexto de pandemia.

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