O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, saiu da Argentina para a Venezuela sem anúncio prévio e sem saber por quanto tempo ficará fora do país, onde está refugiado. A viagem incógnita foi confirmada pela agência oficial argentina Télam com base em fontes governamentais. A assessoria de imprensa de Evo Morales em Buenos Aires calou-se sem confirmar ou negar a informação.
O voo que levou Evo Morales de Buenos Aires a Caracas foi por meio da companhia aérea estatal venezuelana Conviasa, disponibilizada pelo regime de Nicolás Maduro. Evo Morales, aliado de Maduro, refugiou-se na Argentina desde 11 de dezembro, um dia após a posse do presidente argentino Alberto Fernández. Antes, ele passou um mês no México sob os cuidados do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador.
Ele deixou a Bolívia após renunciar, em 10 de novembro, após 14 anos de governo em meio a uma convulsão social motivada por denúncias de fraude, quando tentava o quarto mandato consecutivo, mesmo quando um referendo lhe negou essa possibilidade.
“Cedo ou tarde”
Esta semana, logo após a vitória de seu candidato, Luis Arce, à Presidência, Evo Morales disse que voltar à Bolívia “é questão de tempo”. “Mais cedo ou mais tarde vamos voltar para a Bolívia. Se há tantos processos, é porque fazem parte de uma guerra suja de tanta mentira. Portanto, é questão de tempo”, prometeu.
Morales evitou responder se ocuparia algum cargo no próximo governo de seu ex-ministro da Economia, Luis Arce. No entanto, ele indicou que voltaria a se dedicar à agricultura. “Meu grande desejo é voltar para a Bolívia, entrar na região onde cresci como dirigente sindical. Estou voltando para Cochabamba para a agricultura, para ser um pequeno produtor”, disse.
Retorno condicionado
O ex-presidente boliviano também associou seu retorno à Bolívia com o fim do processo que o ameaça de prisão e previu que as acusações “cairão”. “Agora tenho a possibilidade de voltar sem muitos problemas. Quero que saibam que tenho 30 casos. Nenhum é de corrupção. Vocês verão, irmãos e irmãs, todos esses casos cairão”, disse Evo Morales durante videoconferência com centenas de líderes e trabalhadores de plantações de coca das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, berço político-sindical de Morales.
Para o ex-presidente, os processos por fraude eleitoral, sedição, genocídio, terrorismo, financiamento e incitação pública à prática de crimes e até estupros fazem parte de uma “guerra suja” do atual governo de Jeanine Áñez.
Remoção de obstáculos judiciais
Além de Evo Morales condicionar o retorno à Bolívia ao fim das ordens de prisão, os líderes políticos de seu partido, o Movimento Ao Socialismo (MAS), recomendaram ao ex-presidente, por enquanto, que permanecesse fora do país. “Não acreditamos que este seja o momento certo (para Morales voltar à Bolívia). Ele ainda tem problemas a serem resolvidos e nós, liderados por Luis Arce e como Congresso, temos tarefas a terminar”, disse o senador, presidente da Assembleia Nacional, Eva Copa, sugerindo que trabalharão para remover obstáculos legais.
Além dos processos na Bolívia, o atual governo de Jeanine Áñez entrou com uma ação por crimes contra a humanidade na Corte Internacional de Haia.
A posse será em 8 de novembro
Enquanto Evo Morales voava para se encontrar com Nicolás Maduro, o Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia (TSE) oficializou a vitória de Luis Arce no primeiro turno por 55,1% dos votos. O vice-campeão Carlos Mesa obteve 28,83% e o terceiro, Luis Fernando Camacho, 14%. Eles serão os principais adversários do governo do presidente eleito que tomará posse no dia 8 de novembro, confirmou o presidente do TSE, Salvador Romero.