Na vanguarda da luta contra o coronavírus, a cirurgiã Denise Abranches cuida da saúde bucal dos pacientes internados na UTI da Covid-19 no Hospital São Paulo.
Ela foi a primeira voluntária a receber uma vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford fora do Reino Unido. Os testes começaram na semana passada e são realizados pela Unifesp. “Foi um ato de querer ajudar as pessoas”, diz Abranches sobre a decisão de participar da pesquisa.
“Não suporto mais de 10 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo e mais de 500.000 mortes”, disse o voluntário em entrevista por telefone à Folha, Ele diz que acredita que, como profissional, é sua obrigação estar disposto a participar de pesquisas dessa magnitude.
Ele não elogia a pesquisadora líder Lily Weckx e diz que a escolha de participar do estudo é um privilégio: “talvez muitos colegas também gostem de estar aqui”.
Desde o início da pandemia, ela trabalha com pacientes infectados com o novo coronavírus e diz que nunca teve medo de participar da pesquisa. “A imagem de um paciente intubado é muito impressionante para aqueles que trabalham na UTI. Houve momentos em que eu até sonhei que estava intubado. Esse vírus é eficaz e causa tudo ”, diz ela.
Uma das condições para participar do processo não é que ele esteja infectado com o Covid-19. “Após esse período exposto ao vírus, um teste negativo é mais bem-sucedido que a vacinação”, brinca a profissional, que afirma que ainda segue regras rígidas de higiene, tanto para ela quanto para sua equipe.
Os voluntários devem ser soronegativos, ou seja, não contraíram a doença anteriormente, porque estudos mostram que essas pessoas já desenvolveram imunidade ao novo coronavírus.
Abranches lamenta que muitos colegas profissionais estejam infectados com o Covid-19. Há quatro meses, ele diz, não sabíamos muitas das coisas que sabemos hoje. “Ninguém estava pronto. Não havia aviso de que iria falhar, infectologistas são acusados, tivemos muita contaminação”.
“Estamos falando de um vírus que entrou na história e mudou a vida da humanidade. É por isso que todos estão buscando maior bem-estar que retorne à vida normal, para que as pessoas possam voltar a abraçar seus amigos e voltar a suas atividades”, adverte. acreditar na ciência e esperar que tenhamos uma vacina 100% eficaz.
O dentista, no entanto, não sabe se a dose recebida pela vacina da Universidade de Oxford é porque o estudo planeja dividir os voluntários em dois grupos: um recebe a vacina contra o coronavírus e o outro o chamado controle da vacina contra meningite, sem afetar o coronavírus. O objetivo é comparar os resultados dos dois grupos após a aplicação.
A dose que recebeu foi administrada na terça-feira (23) e ela não relatou efeito colateral, sintoma ou sinal. “Continuo trabalhando normalmente, com a mesma exposição ao perigo, seguindo a máxima biossegurança”, diz Abranches, que disse ter um diário durante o período de teste no qual deve registrar qualquer sintoma e registrar sua temperatura diariamente.
Denise Abranches é uma das 2.000 voluntárias que devem participar de pesquisas em São Paulo lideradas pela Unifespa. Os estudos foram financiados pela Fundação Lemann. Outros 1.000 serão testados no Rio de Janeiro, na rede D’Or.
Voluntários são pessoas entre 18 e 55 anos de idade e com alta exposição ao coronavírus. Por esse motivo, a maioria dos voluntários selecionados para esse procedimento são pessoas que trabalham em hospitais, na vanguarda da luta contra o coronavírus, dentre os quais profissionais como médicos, enfermeiros e motoristas de ambulância.
Uma das principais razões pelas quais os farmacêuticos estrangeiros estão pedindo ao Brasil para realizar testes de vacina reside no fato de o vírus ainda estar circulando fortemente aqui.