No livro “Viagem ao centro da terra”, o escritor francês Júlio Verne conta a história da aventura do professor e geólogo alemão Otto Lidenbrock, que desceu por um vulcão na Islândia e chegou ao centro do nosso planeta. No mundo real, essa jornada seria bem diferente.
No livro, Lidenbrock e seu grupo descobriram um mundo paralelo e fantástico, no qual ainda existem animais como dinossauros. Eles terminaram de uma aventura em outro vulcão, localizado na Itália.
Mas, na realidade, é muito provável que a viagem demore apenas alguns quilômetros. E só encontraríamos dinossauros se cruzássemos com alguns ossos daqueles habitantes terrestres do passado.
Nós mal passamos a concha
Até o momento, a maior profundidade que o homem já alcançou foi de 10,9 km. O rótulo foi entregue ao submarino em 23 de janeiro de 1960, um pequeno navio mais resistente à pressão do que um submarino clássico.
Lá dentro estavam o oceanógrafo suíço Jacques Piccard e o tenente da Marinha dos EUA Donald Walsh. A aventura ocorreu na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo mapeado no oceano – com cerca de 11 km de profundidade.
A situação no terreno é diferente. Nesse caso, o ponto mais profundo não foi alcançado por uma expedição militar, mas por um buraco cavado em Kola, na Rússia, que se estendia por pouco mais de 12,2 km.
Seja terra ou mar, foi alcançada uma descida de uma pequena parte do que seria uma viagem ao centro do planeta. Para chegar lá, seria necessário descer 6.371 km, que é o raio do nosso planeta.
E essa viagem seria muito turbulenta.
Você pode morrer esmagado?
Não precisa ser um corpo humano para ter problemas em grandes profundidades. E um dos maiores negativos desta história é a pressão, que aumenta absurdamente à medida que descemos para o centro do planeta.
Deixe-me dizer-lhe, a pressão no centro do planeta pode atingir 3,6 milhões de atmosferas (atm) – ao nível do mar essa pressão é de 1 atm. E apenas alguns quilômetros de profundidade seriam suficientes para pressionar a fim de impedir que um objeto construído por humanos, como uma sonda, permanecesse inteiro, para mostrar o que está nessas profundezas.
… ou cozido
Se a temperatura média da superfície da Terra é de 15 ºC, as entranhas do planeta não são frescas. A 670 km da superfície, a marca seria 1.700 ° C combustível. E aqui estamos falando de pouco mais de 10% da distância entre a superfície e o centro do planeta. Em outras palavras: à medida que avançamos, as coisas ficam muito mais tensas.
Cálculos de cientistas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Atmosfera da Universidade de São Paulo (IAG-USP) mostram que a temperatura central do planeta está em torno de 4.530 ºC – embora estudo publicado em 2013 indicam que esta temperatura pode atingir cerca de 6.000 ° C.
Dado o número menor, é mais do que suficiente derreter o carbono, o material com o ponto de fusão mais alto da tabela periódica, e fazê-lo ferver. Entre os metais, não apenas o tungstênio seria cozido nessa temperatura. Um número maior significaria uma temperatura mais alta que a superfície do Sol.
Uma série de camadas
Abandonando nossas limitações, uma viagem hipotética ao centro do planeta seria como mergulhar em um bolo cheio de várias camadas de cores diferentes.
Tudo poderia, é claro, variar de acordo com o local da descida, mas nos primeiros 5 km da viagem atravessávamos rochas sedimentares de diferentes tonalidades de cores diferentes, e estas podiam ser vermelhas, amarelas, cinza etc. Depois desse trecho, a descida encontrava rochas cristalinas de crosta terrestre, composta por minerais ricos em silício e alumínio.
Nesses primeiros quilômetros, também encontramos reservas de água, gás e petróleo.
Descendo um pouco mais e alcançando uma profundidade de cerca de 70 km, nos encontraríamos no manto da Terra, que é a camada mais espessa da Terra – se estende por quase 3000 km. Nesta área de transição entre a crosta terrestre e o manto, poderíamos mergulhar inadvertidamente em uma bolsa de magma, uma vez que as câmaras nas quais esse material fundido está localizado estão localizadas a uma profundidade de 15 a 150 km.
No manto haveria uma fileira de rochas metamórficas ricas em ferro e magnésio e cores mais escuras.
No final do manto, a uma profundidade de cerca de 3.000 km, estaríamos no núcleo externo da Terra, onde as rochas seriam compostas principalmente de ferro e níquel e estariam em estado líquido.
E chegamos ao centro!
Descendo um pouco, pouco mais de 5.000 km, chegamos ao núcleo, que é uma massa aparentemente sólida composta de ferro, níquel e possivelmente enxofre.
Sim, você não leu errado: mesmo sem evidências, existem muitas evidências de que o centro da Terra é sólido, apesar das altas temperaturas. A razão para isso é que a alta pressão aumenta significativamente o ponto de fusão e ebulição desses elementos, mantendo-os em estado sólido.
A composição do núcleo da Terra tem a ver com a própria formação do nosso planeta, e também com um processo no qual materiais mais densos, por gravidade, são mais difíceis de se concentrar no núcleo dos corpos celestes, como planetas. Isso se chama diferenciação planetária.
fontes:
Gelvam A. Hartmann, professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG-Unicamp); Eder Cassola Molina, professor do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Atmosfera da Universidade de São Paulo (IAG-USP); e Alessandro Batezelli, professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG-Unicamp)