A lua é o corpo celeste mais visível em nosso céu noturno, com uma magnitude aparente (uma escala usada na astronomia para medir o brilho dos objetos) de -13 em sua fase completa. É “apenas” 384.400 km da Terra e “humilha” o segundo objeto mais brilhante do céu, Vênus (magnitude -5). Mas e se o nosso satélite simplesmente desaparecesse?
Essa situação seria perfeita para nós se víssemos que a Lua tem mais do que um “rosto bonito” que afeta crucialmente vários aspectos da Terra – incluindo a vida em nosso planeta.
Não há luar hoje à noite
A primeira consequência óbvia seria uma noite muito mais escura. Porém, mais do que falta de inspiração para as pessoas apaixonadas, a ausência do luar pode ter consequências para muitos animais.
Isso ocorre porque a Lua, como o Sol, desempenha um papel decisivo no chamado ritmo circadiano, um relógio biológico popular. Estudos mostram que organismos como o zooplâncton, ostra e outros caranguejos use o luar como um guia para o comportamento.
Outra pesquisa mostra que é um satélite afeta a reprodução de peixes e questões ainda mais específicas, como um tipo de bezerro para vacas.
Mudanças na iluminação noturna também podem afetar a vida dos animais com hábitos noturnos, principalmente a relação de presa e predador.
Finalmente, atividades humanas como a agricultura podem ser afetadas porque o luar pode afetar a população e as atividades de insetos, como seus vôos noturnos e a polinização de algumas plantas.
Adeus, (boa parte) maré
Em termos astronômicos, a principal influência da Lua na Terra é gravitacional. E a maneira mais clara de ver isso é olhando para o mar: a maioria das variações das marés tem a Lua como a “culpada”.
Sem ela, essa variação apareceria apenas sob a influência do Sol, seria muito menos perceptível. Uma das conseqüências diretas aqui é o enfraquecimento das correntes oceânicas. Também haveria uma redistribuição da água do mar que começaria a se acumular nas regiões polares.
A maré tem uma função e serve como um sistema de drenagem e limpeza natural da costa. E sem essa mudança, a dinâmica do ecossistema, como os manguezais, teria um enorme impacto.
A curva louca da Terra
O eixo de rotação do nosso planeta não está perfeitamente orientado perpendicularmente ao plano de sua órbita ao redor do Sol. Se isso acontecer, por exemplo, não haveria variação nas estações. O frio seria constante em regiões mais afastadas do equador.
O eixo de rotação da Terra é 23,5 graus inclinado do plano de sua órbita ao redor do Sol. E o “culpado” disso é a lua.
Sem ele, a inclinação do eixo variaria significativamente ao longo do tempo, o que causaria grandes diferenças climáticas. Isso afetaria a evolução da vida em nosso planeta, que depende de condições estáveis.
Há quem calcule que, com o tempo, o eixo de rotação da Terra se alinhe ao plano da órbita ao redor do Sol. Se isso acontecesse, seria catastrófico, porque os dias e as noites teriam seis meses cada, e há uma grande diferença: entre esses períodos, haveria condições climáticas extremas.
O que poderia fazer a lua desaparecer?
Vimos as consequências de uma Terra sem lua aqui, mas isso poderia ser uma realidade?
Bem, isso é improvável. Um exemplo seria a possibilidade de um impacto de asteróide – crateras na superfície lunar são a prova de que isso aconteceu muitas vezes. Para um evento como esse tirar a Lua de sua órbita, jogá-la em direção à Terra ou jogá-la, seria necessário que o “míssil” tivesse quase o tamanho de um satélite.
Dados os maiores cometas e asteróides que passam perto do sistema Terra-Lua, nenhum deles tem massa suficiente para causar uma coisa dessas – felizmente, digamos.
O que realmente está acontecendo é que a Lua está gradualmente se afastando da Terra. E aqui não estou falando da órbita elíptica levemente plana que o satélite descreve ao redor do nosso planeta – de acordo com a Primeira Lei de Kepler – e isso resulta em uma variação na distância entre os dois corpos em cerca de 50.000 km.
A cada ano, a Lua se afasta cerca de 3,8 cm da Terra. Isso é resultado de uma diminuição na velocidade de rotação da Terra causada pelas marés: quando elas se movem contra os continentes, os corpos d’água “desaceleram” a rotação dos planetas.
A diminuição da velocidade ocorre muito lentamente, mas termina com um reflexo do chamado momento angular do planeta, que é a energia contida no movimento da rotação.
Como não há como a energia cinética do sistema Terra-Lua se dissipar, a velocidade mais baixa da rotação da Terra é compensada por essa distância da Lua, o que permite que a energia total dessa interação seja conservada.
Mesmo essa partida não significa que a Lua “um dia” vá embora. Chegará um momento em que o sistema entrará em equilíbrio e a Terra sempre terá a mesma face voltada para a Lua – semelhante ao que acontece com um satélite que sempre tem o mesmo lado voltado para a Terra.
Uma vez que isso acontecesse, o satélite estaria constantemente presente no céu em algum lugar do planeta. O bom é que ninguém precisa se preocupar com a perda da lua: quando isso acontece, em alguns bilhões de anos, o Sol deve ter passado por fases evolutivas suficientes para que a presença da vida em nosso planeta seja impossível.
fontes:
Roberto D. Dias da Costa, Professor, Departamento de Astronomia, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP)
Ana Bonassa, bióloga e doutora em ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP)
Renato Las Casas, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (DF-UFMG), com a ajuda de um monitor do Grupo de Astronomia da UFMG