As notícias recentes de que os pagamentos podem ser feitos via WhatsApp causaram um alvoroço. Era um “zap”, um aplicativo no qual passamos boas horas do dia tentando entrar no sistema financeiro do país em parceria com a máquina e alguns bancos. Pequenos detalhes sobre a iniciativa foram divulgados. Depois disso, o Banco Central suspendeu o contrato para uma análise mais detalhada do que representaria para a concorrência e a segurança do setor, e o Cade ainda está investigando. A decisão está correta: as regras devem primeiro ser avaliadas para serem claras e justas.
O Brasil é o segundo país do mundo com mais usuários “zap”, cem milhões de pessoas. O WhatsApp Pay já começaria grande, ao contrário do que normalmente acontece. Por esse motivo, o “zap” deve passar pelo Banco Central. A inclusão de todos esses usuários na nova forma de pagamento obviamente pressiona os lojistas a se juntarem à dança. Agora é impossível recusar vendas para centenas de milhões de pessoas. Sabendo que “zap” poderia usar, agora ou no futuro, um enorme poder de mercado. Como é comum nesse relacionamento, os lojistas beneficiariam os clientes: o nível especulado de taxa por transação (cerca de 4%) seria muito maior do que o praticado atualmente.
Lembre-se de que o setor de pagamentos no Brasil já foi marcado por várias conexões exclusivas. Esses acordos fechados representaram um atraso com a concorrência, impediram preços mais acessíveis e nos impediram de inovar. Custou um pouco ao trader e não queremos voltar a essa realidade.
O banco central está trabalhando duro para editar essas arestas, estabelecendo novas regras do jogo para que os vários métodos de pagamento no país sejam “abertos”. Em outras palavras, um banco, máquina ou qualquer outro não precisa mais manter um banco como refém para aceitar um tipo específico de pagamento, a chamada “interoperabilidade”. Uma palavra difícil no jargão, mas significa “todos devem se comunicar com todos”, sem barreiras artificiais.
Esse movimento nos permitiu fazer progressos importantes, como concorrência e redução de custos, princípios que as autoridades não desistem. A competitividade trouxe envolvimento do varejo: hoje, de tabernas a compras de luxo, milhões de varejistas em todo o país podem aceitar pagamentos por meios mais seguros e eletrônicos. E conseguimos tudo isso nas regras, em um ambiente cada vez mais livre de abusos.
A Bigtechs tem um histórico de conflitos antitruste em vários países – de multas bilionárias por práticas desleais de concorrência a vazamentos de informações e dúvidas sobre a privacidade dos dados do usuário. Esses fatos nos levam a pelo menos renunciar a esse movimento recente. A iniciativa deve ser acompanhada pelo cumprimento dos critérios prescritos para proteger o varejo contra fraudes.
Por exemplo, se ocorrer um ataque que desvie dinheiro de um aplicativo, o “zap” deverá ser responsável por registrar a perda. O problema não pode recair sobre o pequeno comerciante. Também existem preocupações sobre o uso indevido de informações e o potencial abuso de poder econômico (novamente, como alguém pode não aceitar o método de pagamento usado por milhões de clientes?). Os mesmos critérios impediram a Zapa de avançar seu projeto em países como Índia, México e França. Você achou que ele escaparia para o Brasil?
A crise atual impõe enormes desafios de varejo, que pouco fizeram para servir às políticas do governo para combatê-la. Precisamos estar cientes de novas maneiras de vender, querendo entrar no mundo digital. Mas isso deve ser feito com responsabilidade, não cedendo a pontos de vista aparentemente fáceis. A decisão do Banco Central não quer parar a inovação. De fato, ele envia a mensagem de que qualquer inovação no sistema deve ser segura e representa um passo além do que alcançamos até agora, não uma mudança. Os desafios já são grandes o suficiente para termos que enfrentar um gigante que pode nos sufocar sem nenhuma proteção.