O nome é José Tavares, até agora foi director-geral do Tribunal de Contas, mas acaba de ser nomeado novo presidente da entidade. Mais ainda: José Tavares era, nesta altura e inerentemente, Presidente do Conselho de Administração do Tribunal de Contas e Chefe da Casa Civil do ainda Presidente do TC, o agora destituído por António Costa Vitor Caldeira.
O primeiro-ministro levou o nome ao Presidente da República no final da tarde desta terça-feira, tentando não aumentar a polêmica sobre a substituição inesperada. Ser uma solução de continuidade, como o presidente queria, Marcelo aceitou.
Continuidade é a palavra chave. Não só o nomeado faz parte da casa, como também está a trabalhar no TC desde fevereiro de 1995. Há quinze anos, tem-se juntado a outra função sensível neste momento político: José Tavares é “membro e Secretário-Geral da Conselho de Prevenção da Corrupção, inerente ao cargo de Diretor-Geral do Tribunal de Contas ”. Corrupção é, lembre-se, a palavra sensível colocada no último parecer do TC a uma lei do Governo, aquela que pretende agilizar os investimentos públicos. A palavra estava inscrita no parecer e já levou o Governo a prometer um recuo. Na fala do dia 5 de outubro, o próprio Marcelo deixou um alerta com as mesmas palavras. Juntando um alerta para a sensibilidade do diploma que está em discussão no Parlamento.
Foi a confluência das duas notícias – a do parecer negativo à lei do Governo e a do apelo de António Costa à destituição de Vitor Caldeira – que abriu uma polémica, logo apanhada pela oposição, que procurou o ângulo de ataque ao Executivo, entre a incapacidade de lidar com críticas e permissividade a relacionamentos perigosos. Esta terça-feira de manhã, António Costa foi a público explicar a troca: ancorado em Marcelo, disse que já havia sido decidido que não haveria renovação de mandatos, “mesmo por uma questão de independência” do responsável. E deixou claro que, até que houvesse um sucessor, caberia ao vice-presidente do TC assumir o cargo. Costa nunca se referiu a muitos polêmicas com o governo que marcaram o mandato de Caldeira, nem a forma como foi dispensado: pelo telefone.
O Marcelo, ao Expresso, disse algumas horas depois que o Vitor Caldeira merecia uma boa nota (“Foi um grande presidente do TC, elogiei-o várias vezes”). Mas apontou o caminho que almeja para a instituição que fiscaliza muitas contas do Estado português: dentro “da mesma linha”, “com exactamente o mesmo grau de procura”.
Com reunião marcada em Belém para a mesma tarde, no Conselho Superior de Defesa Nacional, Marcelo esperava que Costa lhe desse esse perfil. E Costa o mediu. A aprovação seguiu sem mais palavras no site da Presidência. Não é uma referência ao currículo do nomeado.