Correu bem a primeira sessão do Conselho de Estado que Marcelo Rebelo de Sousa convocou (desta vez em versão dupla) para esta quarta-feira e que decorre ainda na Cidadela, em Cascais. O Presidente da República tinha convidado o Presidente do Banco Central Europeu a fazer uma apresentação sobre as perspectivas económicas e financeiras da Europa, em particular da zona euro, e os seus efeitos em Portugal, e Christine Lagarde deu a boa notícia horas antes: “é muito improvável “um aumento nas taxas de juros em 2022.
Disse-o no Banco de Portugal, onde esteve com Mário Centeno, e o ex-ministro das Finanças e actual Governador do Banco Central foi um dos participantes no encontro com assessores do Presidente da República.
A reunião durou cerca de três horas, terminou pelas 17h00 e 10 minutos depois iniciou-se a segunda sessão, desta vez sobre o tema mais candente da política portuguesa – a dissolução da Assembleia da República, na sequência da queda do Orçamento do Estado.
Saindo do Palácio da Cidadela, o presidente do BCE não quis responder às perguntas dos jornalistas sobre a crise política em Portugal. Limitou-se a sorrir, após um caloroso adeus de Marcelo Rebelo de Sousa, que a acompanhou até ao carro e com quem trocou beijos de mão. Fontes presentes no encontro descrevem a intervenção de Lagarde como “uma demonstração de sabedoria” sobre temas para o futuro, desde o clima à inflação, passando pela evolução das taxas de juro.
A Christine sempre foi “muito simpática com Portugal”. Mas legal, foi, por enquanto, a boa notícia que ele havia saído horas antes no BdP, onde considerava que qualquer aumento nas taxas de juros no próximo ano seria “um aperto indevido das condições de financiamento”, o que “não é desejável , num contexto em que o poder de compra já está limitado por preços mais elevados da energia e dos combustíveis, o que representaria uma dificuldade inadequada de recuperação ”.
Após o curtíssimo intervalo, os Conselheiros Estaduais iniciaram a segunda discussão do dia, desta vez sobre a proposta do Presidente da República de acionar a chamada ‘bomba atômica’ que a Constituição lhe concede. Nomeadamente, a dissolução do Parlamento que conduzirá à convocação de eleições antecipadas.
Marcelo retirou da pauta da reunião a polêmica em torno da data das eleições legislativas. Sob dupla pressão – de um lado, daqueles que defendem que as eleições devem ocorrer o mais rápido possível, do outro, daqueles que entendem que o presidente deve dar tempo para o PSD e o CDS resolverem as disputas internas de liderança em curso nas duas partes – Marcelo quer decidir sozinho. Você conseguirá que alguém traga o assunto da conversa?