Nunca teremos democracia sem discutir todas as desigualdades que dividem este país. E quando falo de desigualdade, falo amplamente de todos os tipos possíveis.
É impossível passar por uma pandemia global, para casos que são exemplo de genocídio negro, fome, pobreza, negligência de nossas favelas e periferia, sem protestar, e até dizer que estamos lutando pela democracia neste país.
De que democracia estamos falando?
Para mim, falar sobre democracia é sobre desigualdade e como combatê-la. Uma coisa não pode ser separada da outra. Ou pelo menos ela não deveria.
Em um dos momentos mais difíceis do mundo, nosso país se destaca pelo racismo, pela ausência de líderes que se preocupam mais com a vida do que com os números e por causa das divisões ideológicas que nos destroem todos os dias.
Em meio a tudo isso, nosso povo negro está se tornando ainda mais vulnerável, ainda mais exposto e sujeito a todas as possíveis atrocidades que compõem esse tsunami estrutural. Não há dúvida de que a população negra, pobre, fraca e periférica é a mais atingida por vários preconceitos.
Nosso estado carrega em seus braços uma história de racismo que não se disfarça, que mata e depois pergunta quem era, que destrói sonhos, que nos impede de chegar onde sempre desejamos, cria divisões raciais cruéis e injustas.
Mas estamos cansados de assistir, morremos e não brigamos.
Nosso povo luta há décadas pela sobrevivência, resistência e dignidade. Não podemos deixar de pensar na população negra sobre como podemos realmente construir uma sociedade anti-racista.
Nosso nível de desfazer tudo isso já é tão alto que, no início deste mês, não vimos outra saída senão ir às ruas com corpos e máscaras, protestando por medo de ser baleado, morto ou morto de fome.
Mas quanto tempo teremos que enfrentar esse racismo estrutural e institucional, que está nos matando e destruindo nosso povo? A cada 23 minutos, um jovem negro é morto no país. Eles matam nossos jovens e matam nossos sonhos todos os dias.
Permitir que sonhemos, permitindo-nos chegar onde queremos, deve ser nosso direito.
Desde março, vimos movimentos de favelas e periferia, negros, quilombol, organizações indígenas e outros membros da sociedade civil trabalhando para ajudar algumas pessoas que estão ainda mais necessitadas no momento.
As pessoas que estão esperando desesperadamente Emergência que nunca chegaram e nunca chegaram.
Colocar comida na mesa é uma prioridade. Nossa luta política começa em nossas casas, nas favelas, na periferia. O que vimos são algumas mulheres negras na frente de suas comunidades agindo e liderando em nome de seus homens. Estamos procurando saídas urgentes para que nenhum de nós fique para trás.
Estar na vanguarda da tomada de decisões é o mecanismo que me leva a tentar subestimar os impactos das ausências históricas e sistêmicas que ampliam as desigualdades e fazem nosso pessoal perder a perspectiva de um futuro melhor.
Hoje, no comando do Instituto Marielle Franco, que leva não apenas o nome da minha irmã, mas a responsabilidade de continuar a defender sua memória, buscando justiça e disseminando o legado, lutei com várias organizações e movimentos do país, lutando para garantir a segurança alimentar e o acesso a emergências para ajudar milhares de mulheres negras nos arredores do Rio, o projeto Agora É A Hora e, por outro lado, a trajetória e atuação de ativistas negros, que querem apontar o caminho “Para onde vamos” após a crise, entendendo que a resposta só pode vir do negro , perspectivas femininas e coletivas.
Tudo isso reforça o máximo de que o futuro anti-racista é capaz de manter nosso povo negro vivo e forte.
Significa reconhecer nossos ancestrais, nossas raízes e estar ciente da magnitude de nossa força.
Significa entender que estamos lutando por dias melhores há séculos e que não aceitaremos um retorno um passo adiante.
Tem uma sociedade que entende a importância de direitos iguais para todos.
Isso significa ter a oportunidade de vir, ir à escola e se formar em igualdade de condições.
Não é morrer de fome, atirar ou dar à luz, só porque somos negros e negros.
Há mulheres negras que ocupam espaço para tomar decisões e permanecerem vivas.
“Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista” – Angela Davis, durante sua última visita ao Brasil em 2019.
** Este texto não reflete necessariamente a opinião do UOL.