O conselho da Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou em 26 de junho dois novos recordes mundiais de relâmpagos, O mais longo, com 709 quilômetros (km), foi descoberto no sul do Brasil e chegou aos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em 31 de outubro de 2018. Para fins comparativos: a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro é de cerca de 430 km. O segundo recorde, o mais longo, 16,73 segundos, ocorreu no norte da Argentina em 4 de março de 2019.
Os fenômenos atmosféricos são registrados pela tecnologia de imagem de satélite e são muito melhores do que as medições anteriores nos Estados Unidos (EUA), onde o feixe tinha 321 km de extensão e o segundo, na França, 7,74 segundos,
709 km é a distância entre Boston e Washington, nos Estados Unidos, ou entre Londres e a fronteira na Suíça, de acordo com dados divulgados pelo comitê da OMM. Na América do Sul, a distância é equivalente à fronteira norte entre o Rio Grande do Sul e a Argentina, e abrange toda a Santa Catarina e entra no Oceano Atlântico.
A meteorologista Rachel Albrecht, professora do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG), atuou em um comitê de especialistas que certificou dois novos registros.
Segundo o pesquisador, o fato de essas áreas serem propensas à criação de fortes tempestades com uma enorme extensão horizontal (várias centenas de quilômetros) contribuiu para que esses dados de distância e clima fossem registrados no local.
Sob essas condições, uma descarga elétrica percorre uma longa e longa distância dentro da nuvem
Rachel Albrechtprofessor de IAG da USP
Uma situação semelhante está ocorrendo no Brasil, que devido ao seu vasto território localizado nos trópicos, o torna líder mundial no número de descargas elétricas – 105 milhões no número absoluto de descargas elétricas por ano. No entanto, essa é uma verdade relativa, porque na República do Congo (África Central), com uma área quase quatro vezes menor que o Brasil, ocorrem cerca de 95 milhões de ares.
Mapas de raios geoestacionários
Quanto aos registros encontrados no sul do Brasil e na Argentina, Rachel acredita que ainda é possível obter registros ainda maiores à medida que surgem novas tecnologias para o mapeamento espacial do ar. Os instrumentos utilizados neste experimento são de última geração e têm a capacidade de medir simultaneamente o alongamento e a duração do ar: são Mapas Geoestacionários de Raios (GLM) nos satélites ambientais geoestacionários operacionais da série R (GOES -16 e 17).
Esses “instrumentos registram uma descarga elétrica a cada 2.000 segundos em todo o continente americano e oceanos vizinhos”, diz o pesquisador.
Os novos registros foram submetidos à OMM por um pesquisador do Laboratório Nacional de Los Alamos, nos Estados Unidos, e foram avaliados e confirmados por uma comissão de especialistas em eletricidade atmosférica do Brasil, Estados Unidos, França, China e Reino Unido.
Sobre a importância do registro, Rachel explica que são informações valiosas do ponto de vista da segurança pública, da situação social e climática. “Muitas vidas são reivindicadas todos os anos devido a raios. Esses registros dizem que os raios podem viajar longas distâncias e as pessoas devem sempre procurar refúgio quando uma tempestade se aproxima ou ouve um trovão”.
As descobertas ajudam a monitorar onde a frequência das descargas elétricas é maior, com a intensidade que ocorre e com que distância elas podem ser percorridas. Sobre a questão do clima, o pesquisador diz que as descargas elétricas estão relacionadas às mudanças climáticas globais. Alguns estudos levantam a hipótese de que qualquer grau mais alto registrado à temperatura global pode causar um aumento de raios na Terra.