Maio de 2020 já é o mês com o maior número de mortes de notários na história do Brasil. Até a última segunda-feira (22), 123.857 declarações foram registradas de pessoas que morreram em todo o Brasil, das quais 24.021 são a principal causa: covid-19.
O número de mortes no mês passado representa um aumento de 13,1% em relação a maio de 2019, quando os cartórios no Brasil registraram 109.479 mortes.
Historicamente, o mês de julho tem o maior número de mortes no país devido à maior circulação de vírus respiratórios (veja abaixo). Há também o fato de que problemas cardiovasculares são afetados por doenças virais respiratórias, e o aumento dessas doenças torna esse número ainda mais significativo nos meses de julho.
- Maio 2020 – 123.702 *
- Julho de 2017 – 122.610
- Julho de 2018 – 119.675
- Julho de 2016 – 118.151
- Julho de 2019 – 118.097 *
(* Os dados ainda estão sujeitos a expansão)
Lua mortal
Os dados, no entanto, podem crescer ainda mais à medida que o portal de transparência da Arpen (Associação de Registradores de Pessoas Naturais) é abastecido com informações enviadas por notários e pode levar vários dias para denunciar a morte ao sistema nacional.
Twitter consultou o banco de dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) do Ministério da Saúde, que também se baseia na causa da morte declarada nos atestados. Não há registro de quantos meses foram tão mortais quanto em maio de 2020.
A plataforma do ministério contém dados detalhados sobre mortes e suas causas, de 1996 a 2018. Os números para 2019 ainda estão nos estágios finais de verificação para detecção. Antes de 1996, não havia relatos históricos indicando uma taxa de mortalidade tão alta em apenas um mês.
Com o tempo, com o crescimento da população e uma explosão de violência urbana, o número de mortes mensais aumentou. A primeira vez que o país passou a taxa de mortalidade de 100.000 foi em janeiro de 2011. Desde então, tornou-se uma coisa recorrente que os dados pudessem atingir seis dígitos.
Até maio de 2020, o mês com o maior número de mortes registrado no país era julho de 2017, quando 122.610 pessoas morreram de várias causas no Brasil. Nesse ano, note-se, os dados mensais aumentaram devido à guerra das facções, que levou o país a registrar assassinatos.
Julho e a história da morte
O mês de julho, historicamente, tem o maior número de mortes no país. Em 2018, por exemplo, houve 119.675 mortes. No ano passado 118.097.
Ricardo Martins, professor da UnB (Universidade de Brasília) e membro do serviço de pneumologia do Hospital Universitário de Brasília, explica que o maior número de óbitos em julho ocorre devido à maior circulação de vírus respiratórios no país.
“São doenças de inverno, essas fotos gripe, de problemas devido a causas respiratórias. Começa lá em abril e atinge o pico em julho. E é bem demonstrado que problemas cardiovasculares são afetados por doenças virais respiratórias. Então, acredito que esse aumento dessas doenças tornará esse número ainda mais significativo nos meses de julho ”, afirma.
Uma situação incomum
Martins destaca ainda que a dramática situação causada pela covid-19 não tem precedentes para os profissionais de saúde de sua geração.
“Nunca tivemos uma complicação nesse nível, com tantas mortes pela causa em tão pouco tempo. Não tenho dúvidas de que será o maior problema nos últimos 100 anos”, compara.
Com um nível alto em maio, Martins prevê dias difíceis pela frente no país por causa do novo coronavírus em junho e julho. “É uma doença altamente contagiosa que acomete hospitais – não apenas os JCBs, mas também as enfermarias. É uma coisa impressionante e perturbadora. Estamos constantemente monitorando e vendo apenas um aumento na mortalidade”, reclama ele.
Sistema sobrecarregado
Em maio, o número de mortos atingiu metrópoles, com uma demanda excessiva por hospitais – sobrecarregando os serviços de saúde. “Sem dúvida foi o mês mais alto. Ocorreram casos em todas as esferas da vida. Pensei que teríamos uma interrupção no atendimento hospitalar e ambulatorial”, diz Arthur Gomes Neto, diretor médico da Santa Casa de Maceió.
O maior hospital privado de Alagoas, em maio, registrou 94 mortes do gênero 19. O hospital estava totalmente ocupado com 144 pacientes internados ao mesmo tempo – ontem o número era muito menor: 102 pessoas, 38 das quais estavam na cama por reabilitação (unidade de terapia intensiva).
O professor e pesquisador da área de doenças infecciosas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e do IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), Luís Carlos Arraes, afirma que não há como pensar em outro fator que justificaria um aumento tão elevado na morte em maio deste ano, exceto 19.
“Os dados comprovam o que era esperado, que aumentaria a mortalidade em geral. A única coisa que justificou isso foi a epidemia de coronavírus”, diz ele.
A mortalidade total simplesmente não é mais alta, diz Arraes, porque no período de isolamento social houve um declínio natural em outras causas de morte, como acidentes de trânsito e complicações causadas por operações eleitorais (que foram suspensas devido à pandemia).
“É realmente uma tragédia recente sem precedentes. Esse número de mortos até a morte 19, apesar de muito alto, ainda está bem abaixo do real. Basta olhar para o número de mortos da SRAG.” [Síndrome Respiratória Aguda Grave], que teve um aumento, mas sem causa. E com essa internalização do vírus em todo o país, receio que perderemos mais dados ”, diz ele.