A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deliberou, ainda em versão preliminar, que o empresário Mário Ferreira está obrigado a lançar uma OPA sobre o capital social da Media Capital que não lhe pertence ou da Prisa. O dono da Douro Azul ainda pode contestar.
Com esta decisão, a Cofina, que lançou uma oferta pela mesma empresa, apenas a título voluntário, pode retirar a oferta.
De onde vem a decisão
Mário Ferreira detém, através da Pluris, 30% do capital do titular da TVI. A Prisa detém também 64% da Media Capital, embora tenha um acordo com vários investidores, como o grupo Triun, Cristina Ferreira ou Pedro Abrunhosa, para vender esta posição. Cerca de 5% estão nas mãos do grupo bancário espanhol Abanca e existe uma parcela muito pequena, 0,26% do capital, dispersa entre os pequenos investidores, entre os quais Miguel Pais do Amaral (que, em declarações ao Expresso, já era muito crítico posição da CMVM).
Essa OPA obrigatória está relacionada a um processo iniciado em maio. Foi nesse mês que o proprietário da Douro Azul adquiriu 30% do capital da Media Capital à Prisa, assinando em paralelo um acordo de acionistas que decretava, por exemplo, a necessidade de um acordo conjunto para a venda de mais parcelas da capital nas mãos do grupo espanhol dono do “El País”.
Em virtude deste acordo, a Pluris, empresa de Mário Ferreira, que é acionista direto da Media Capital, teve de provar, perante o regulador do mercado, que não houve concertação de influência com a Prisa, que passaria a ser superior a 50% do capital da Media Capital.
Ora, esta prova não foi suficiente para a CMVM, que esta sexta-feira disse que a sua decisão preliminar aponta para a consulta entre os dois accionistas. Mário Ferreira tem agora dez dias úteis para responder e apresentar novas provas.
Caso a autoridade liderada por Gabriela Figueiredo Dias se mantenha, Mário Ferreira tem de lançar uma OPA sobre cerca de 5% do capital – ação que não é sua nem da Prisa.
Isso porque, caso tenha havido consulta, houve mudança de controle e, quando houver mudança de controle, os demais acionistas deverão ter a possibilidade de desligamento. A Prisa já tinha lançado uma OPA em 2007, altura em que se tornou o acionista maioritário da empresa, pelo que a imposição da OPA só é atribuída a Mário Ferreira.
É assim que a Pluris pode ser obrigada a assumir a OPA para se legitimar perante os acionistas minoritários que adquiriram o controle da empresa. A decisão final será tomada após a manifestação de Mário Ferreira.
Auditor independente decreta preço, Cofina pode retirar sua oferta pública de aquisição
O preço desta oferta, a produzir efeitos, será o determinado pelo revisor oficial de contas que foi chamado a calcular o justo valor da OPA da Cofina. Mas há um porém: o preço da OPA Pluris deve ser pelo menos 2% superior à contrapartida indicada pelo Revisor Oficial de Contas e que serve de base ao funcionamento da Cofina.
A OPA de 100% da Cofina é voluntária, portanto, se houver uma oferta obrigatória do Pluris, você tem a opção de desistir.
OPA captura empresa para venda
A obrigatoriedade dessa possível oferta pública de aquisição captura a Media Capital no processo de venda. A Prisa, dona de 64%, fechou um acordo com vários investidores para vender sua participação. Entre eles estão a empresa Triun, liderada por Paulo Gaspar (filho de Avelino Gaspar, dono do grupo Lusiaves), que tem acordo para ficar com 20%, e o grupo de empresários em que está integrado o grupo de tintas CIN, adquire 16 %. Cristina Ferreira fechou a promessa de compra de 2,5%, enquanto Pedro Abrunhosa tem uma participação de 2%. O cantor Tony Carreira terá, indiretamente, 1%.
Estas aquisições aguardam várias condições suspensivas, como o sinal verde dos credores da Prisa, mas a CMVM obrigou a sua comunicação ao mercado. No entanto, para além da autorização que deve vir de Espanha, em Lisboa estão em curso investigações que também trazem incertezas ao processo: primeiro, a questão da concertação de votos entre Prisa e Mário Ferreira, que deu origem a esta decisão preliminar da CMVM e, em seguida, a investigação da Media Regulatory Authority (ERC) sobre a suposta mudança de domínio sem sua autorização cujas audições deveriam ter terminado esta semana.