“Bottle and Bottle” estreou sem muito alarde, mas dá muito o que falar – e há muitas pessoas apontando para a série com grandes nomes como Thomas Aquino e Grace Passô como a melhor produção brasileira da Netflix (concordamos e aqui listamos até cinco razões pelas quais você deve dar uma chance).
Decidimos ir atrás de Esmir Filh, criadora e CEO da série, para falar sobre a coincidência da série com as epidemias que já conhecemos – afinal, vivemos uma, certo? – e o que podemos esperar de uma possível segunda temporada. Venha e veja:
Epidemias e uma mensagem de boas-vindas
Em “Boca a Boca”, os jovens da cidade fictícia de Progress são infectados por uma doença misteriosa que é transmitida por um beijo. Parece uma história adaptada a uma pandemia causada por uma nova coronavírus, mas ela estava pronta quando a doença chegou ao Brasil.
Esmir começou a desenvolver a série há dois anos, pensando em outras epidemias na história – as principais são elas HIVnos anos 1980.
A epidemia é o ponto de partida para iluminar o comportamento humano, nossos relacionamentos. Na história das epidemias, as pessoas sofrem das mesmas doenças: falta de informação, pânico, medo, e isso causa preconceitos.
Mas o criador e roteirista admite que atualmente a série está falhando muito bem:
Muito do que estava no programa que estamos sentindo atualmente. Traz reflexão na hora certa, é uma mensagem de boas-vindas, carinho, possibilidade de conectar
“Vírus do conservadorismo”
Além do vírus misterioso que assola o Progresso e se torna o tópico do momento em todas as redes sociais, “Boca a Boca” lida com outro “vírus”, segundo Esmir:
Tem a ver com a nossa doença social, é quase um vírus de conservadorismo.
Não vamos dar spoilers aqui, mas os personagens da série sofrem vários preconceitos, além dos relacionados à doença: eles lidam com homofobia, classicismo, racismo e a rejeição daqueles que vêm de fora. O batismo na cidade de Progress foi uma ironia propositada.
É uma cidade cheia de imagens de controle, que tem a ver com regras, moralidade, como deve ser, quem é nosso, quem são os forasteiros … Essas são coisas que, em última análise, empurram os outros, principalmente os impulsos desses jovens.
Como nasceu o Progresso
A cidade fictícia é, de fato, uma combinação de três cidades reais: Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo; Queluz, na fronteira da Copa do Mundo com o Rio de Janeiro; e Goiás Velho (GO), onde foram filmadas a maioria das cenas da cidade.
A idéia era conectar os locais para a criação desta pequena cidade com a economia pecuária. E ser uma cidade histórica não é à toa. Eu queria mostrar esse lugar antigo e histórico habitado pela tecnologia.
E os atores?
A atenção de “Boca a Boca” também chama a atenção, variando de uma equipe jovem liderada por um trio formado por Michel Joelsas, Caio Horowicz e Iza Moreira, a veteranos como Grace Passô, Denise Fraga, Thomas Aquino e Bruno Garcia.
Os jovens foram selecionados em um processo que começou com mais de 300 candidatos e 60 deles foram levados para a oficina – incluindo os veteranos Michel (“Meus pais ficaram de férias por um ano”) e Caio (“Hebe”). No final, 25 atores foram escolhidos para formar a turma da Escola Rural.
Alguns têm muito potencial de crescimento na próxima temporada. Eu queria escolher bem uma classe, a química do grupo era muito importante.
A química era tão boa que a turma tem um grupo e aí que tem o mesmo nome de um grupo de seus personagens: The Progress of Depression. Nós o amamos!
Eles ainda estão vindo?
Izmir já tem a base para uma possível segunda temporada. Ao desenvolver a série, ele e os autores de sua equipe criaram uma mitologia da história – incluindo as origens de uma seita misteriosa que existe nos arredores da cidade.
A Netflix ainda não comentou a atualização da série, mas Esmir está animada depois que ressoou:
Já vi muitas pessoas na internet perguntando e só estou dizendo: peça mais. Há muitas coisas pelas quais podemos extrair as consequências desta primeira temporada.
Já estamos torcendo!