Duas semanas depois de o medicamento desenvolvido por Bial para pacientes com Parkinson chegar às farmácias do maior mercado farmacêutico mundial, o grupo familiar Portela anuncia um novo, gigante e ambicioso projeto nos Estados Unidos.
A maior empresa farmacêutica portuguesa criou uma filial nos EUA, Bial Biotech Investments Inc., um centro de excelência focado no desenvolvimento de terapias para mutações genéticas associadas à doença de Parkinson, tendo também adquirido os direitos mundiais de programas de investigação sobre a doença de Parkinson doença. Empresa americana Lysosomal Therapeutics Inc. (LTI).
A Bial Biotech vai também fazer parte da equipa de investigação do LTI, que nesta fase inicial será composta por “seis investigadores”, revelou António Portela, esta quinta-feira, 1 de Outubro, num encontro com jornalistas via Zoom.
“Vamos reforçar a equipe, e o objetivo é também o intercâmbio de pesquisadores – daqui para lá e de lá para cá, mas isso não é possível neste momento por causa da pandemia”, lamentou Portela.
O valor global da operação poderá atingir 130 milhões de dólares (cerca de 111 milhões de euros), “valor que vai depender do cumprimento de vários objectivos, resultantes do desenvolvimento e aprovação das moléculas adquiridas”, disse o CEO da Bial.
A Bial Biotech está sediada em Cambridge, na periferia da cidade de Boston, o que “é considerado um ‘hub’ global de pesquisas nas áreas de saúde e biotecnologia”.
“A nossa entrada nos Estados Unidos com a criação da BIAL Biotech e a aquisição destes promissores compostos, é um passo decisivo para o cumprimento da nossa missão de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas em todo o mundo”, sublinhou António Portela, classificando o desenvolvimento deste centro de investigação no país como “um marco de extrema importância”.
“Estamos investindo em ciência e pesquisa, agora vimos nossa presença em um dos mais importantes pólos de pesquisa do mundo em uma das mais promissoras áreas da medicina”, frisou.
Nota relevante: a doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, depois da doença de Alzheimer, com cerca de um milhão de pessoas vivendo com esta doença apenas nos Estados Unidos.
“No ano passado, o valor do mercado de Parkinson nos Estados Unidos foi de 760 milhões de dólares (648,2 milhões de euros). É o maior mercado de Parkinson do mundo”, sublinhou António Portela à Negócios.
Na Europa, estima-se que existam 1,2 milhão de pessoas com Parkinson.
A aquisição dos ativos da LTI, destaca Bial, permite a expansão do “pipeline” da empresa e permite à BIAL Biotech contar, desde o início, com uma equipa de I&D, que será liderada por Peter Lansbury, professor de neurologia da Harvard Medical School ” e referência na área da doença de Parkinson determinada geneticamente, até agora responsável pela I&D de LTI ”.
“Com esta aquisição, a empresa expande o seu ‘pipeline’, nomeadamente com a integração de compostos da área das neurociências já em fase de desenvolvimento clínico, nomeadamente para a doença de Parkinson, onde a farmacêutica portuguesa já opera”, sublinha o Bial, em comunicado.
“Os compostos que adquirimos têm como princípio a análise genética para sua investigação, um aspecto novo para nós. O composto em fase mais avançada, que agora tem o codinome ‘BIA 28-6156 / LTI-291’, tem um mecanismo de ação inovadora e tem potencial para ser a primeira droga que modifica a doença de Parkinson, completou a fase I dos ensaios clínicos e deve entrar na fase II em 2022. Passamos do tratamento sintomático para uma intervenção nos mecanismos da doença, o que representa para a Bial um grande desafio ”, frisou o CEO da Bial.
“Estamos muito satisfeitos com esta integração na Bial”, afirma Kees Been, antigo CEO da LTI e agora CEO da BIAL Biotech.
“Estamos confiantes que com o empenho e os recursos de Bial poderemos dar um novo impulso aos nossos programas de investigação que visam o tratamento personalizado de doentes com doença de Parkinson determinada geneticamente”, promete, no mesmo comunicado de Bial.
A empresa farmacêutica com sede em Trofa explica que “BIA 28-6156 / LTI-291” é uma molécula dirigida a pacientes com Parkinson que apresentam uma mutação no gene GBA-1 – “uma variante genética encontrada em 10% a 15% da população com doença de Parkinson, e os pacientes com essa mutação desenvolvem a patologia precocemente e com progressão mais rápida ”, resumiu.
Vale lembrar que, além do Ongentys, seu medicamento para a doença de Parkinson, a Bial tem no mercado aquele que foi o primeiro medicamento desenvolvido pela empresa, o antiepiléptico Zebinix.
Os dois medicamentos próprios da Bial representam mais de metade do volume de negócios da empresa, que foi de 309 milhões de euros em 2019, contra 270 milhões do ano anterior, com vendas no mercado internacional, para mais de 50 países, representando 75,8% do total.
Mais de mil pessoas trabalham na Bial, incluindo cerca de 160 em I&D, de 14 nacionalidades.