O canal Telegram publica vídeos da repressão aos protestos pacíficos contra os resultados presidenciais.
Nesta quinta-feira, as imagens – em vídeo ou fotografia – eram quase todas de fios humanos, mais ou menos extensos, em vários locais, com balões e flores, todos brancos. Mas um olhar mais atento permitiu parar em imagens obscuras. Um caminhão passando por cima da multidão. Um agente vestido de preto batendo em um carro e depois ele e outros batendo no motorista que se atreveu a reclamar e o levando para dentro de um ônibus, suas costas, braços, pernas, nádegas nuas revelando o sangue pisoteado, repressão.
É a conta do canal “Nexta Live”, fundado por Pavel Durov e com sede em Varsóvia, na Polônia, e que se tornou um dos poucos espaços sem censura com informações da Bielo-Rússia. E é a tela da repressão às manifestações que contestam os resultados das eleições presidenciais do último domingo, que reelegeram Alexandr Lukashenko para um sexto mandato, após 26 anos no poder.
Foram à rua a pedir uma recontagem transparente dos votos – 80% são oficialmente atribuídos a Lukashenko -, foram apoiados pelas mais diversas vozes da comunidade internacional e foram detidos à força. Em quatro noites de protesto, houve 6.700 detidos, dois mortos, centenas de feridos e a saída do candidato da oposição do país.
“Alguém”
Nexta – “alguém”, em bielo-russo – busca transmitir os vídeos que lhe são enviados, alerta os cidadãos sobre os locais onde há polícia, dá endereços de esconderijos e ensina como evitar bloqueios na Internet. E garante que verifica as mensagens, algo que os sites da oposição contestam. O que importa é mostrar o banho de sangue em que se tornaram as ruas de Minsk, disse o editor da BBC, Roman Protasevich, à BBC.
O certo é que a situação na Bielo-Rússia atraiu a atenção internacional e este tipo de canais independentes não o ignoram quando os meios de comunicação oficiais dependem do Estado.
Ao contrário do que aconteceu até agora, a União Europeia, os EUA e até a Rússia (não oficialmente) estão a reagir. Nesta sexta-feira, os chefes dos Negócios Estrangeiros dos 27 se reúnem de forma extraordinária para avaliar possíveis sanções contra Minsk.
Berlim – que é a favor de sanções – convocou esta quinta-feira o embaixador bielorrusso em seu país para relatar a desaprovação da repressão às manifestações naquele país. E, relata “El País”, da Rússia chegam notícias de figuras políticas russas denunciando a “falsificação total” das eleições e alertando que os protestos são “o fim de Lukashenko”, sugerindo que ele fuja do país. Principalmente porque haverá muita gente ciente da situação. Lembre-se de que a Bielo-Rússia é uma espécie de amortecedor útil entre a Rússia e a UE.