Um incidente ocorrido em um barco pesqueiro em Seattle (EUA) provou imunidade ao Sars-Cov-2 em humanos de uma forma sem precedentes. Entre os 120 tripulantes infectados com o coronavírus, seis já estavam infectados, mas apenas três não tiveram recidiva do Covid-19 porque desenvolveram anticorpos contra a proteína spike (S) e o domínio de ligação ao receptor (RBD) do vírus.
Como as embarcações pesqueiras costumam passar muito tempo em alto mar, os marinheiros são submetidos a testes para detectar a presença de pessoas infectadas pelo coronavírus. No dia 1º de abril, 120 dos 122 tripulantes de um desses navios foram testados por PCR (para determinar se estavam infectados) e sorologia (para determinar se já haviam sido infectados com o vírus no passado).
Todos os 120 marinheiros não estavam com Covid-19, mas seis deles testaram positivo para sorologia. Ou seja, 5% dos passageiros estavam infectados pelo coronavírus, mas já estavam curados e, portanto, tinham anticorpos contra a doença. Apenas dois tripulantes não foram submetidos a testes e, curiosamente, tornaram-se peças-chave para a descoberta científica.
Após 18 dias de navegação, a tripulação começou a apresentar sintomas de Covid-19. Após retornar ao porto para atendimento médico de um dos passageiros, todos os navegadores foram testados conforme requerido pelo protocolo. Os resultados foram surpreendentes: 104 das 122 pessoas a bordo (85%) estavam infectadas com Sars-Cov-2 e tinham infecções com a mesma cepa do vírus.
Entre o grande número de infectados, os resultados dos testes de seis tripulantes que já haviam se infectado antes do embarque chamaram a atenção dos cientistas. Três não foram infectados, mas a outra metade deu positivo nos testes de PCR. Então, por que eles mostraram resultados diferentes?
O que a pesquisa encontrou
Intrigados, os cientistas decidiram investigar os motivos que levaram às diferentes conclusões. Uma das primeiras descobertas foi usar o teste de Abbott, que identifica anticorpos para a nucleoproteína do vírus (N):
- os pacientes não infectados tinham níveis muito altos de anticorpos antes do envio, enquanto os outros três variaram de índices limítrofes a baixos níveis de moléculas de defesa do corpo. No entanto, não se sabe se houve reinfecção a caminho ou se o resultado do teste sorológico inicial foi falso positivo.
A segunda descoberta veio depois que pesquisadores segmentaram os anticorpos de todos os membros de sua tripulação porque, embora esse mesmo grupo apresentasse “lutadores naturais” para a nucleoproteína (N), tais moléculas não impediriam o vírus de entrar na célula.
Dois testes sorológicos mostraram que metade do grupo livre de recidiva de Covid-19 também tinha anticorpos contra a “proteína spike” (S) e contra o domínio de ligação ao receptor (RBD) e, portanto, não foram reinfectados. Os outros três marinheiros infectados não tinham esses dois tipos de anticorpos.