Alguns sonhos são vívidos, longos e complexos, com começo, meio e fim precisamente definidos. Outros são apenas olhares não relacionados e não muito marcados, como se fossem memórias distantes. Em analogia a neurocientista Natálie Mota, como se o primeiro e o segundo filmes fossem meros GIFs do WhatsApp.
Novo estude Pesquisadores brasileiros descobriram que a profundidade e a complexidade dos sonhos dependem do estágio do sono em que ocorrem. A ciência já sabia que os sonhos mais vívidos e memoráveis acontecem durante a fase REM do sono. Movimento rápido dos olhosou movimento rápido dos olhos). Nesse estágio de repouso, o cérebro está muito ativo – comparável aos níveis quando estamos acordados.
No passado, pensava-se que os sonhos ocorriam apenas durante a fase REM, mas pesquisas recentes confirmaram que as outras três fases do sono (conhecidas como não REM) também produzem sonhos, embora menos vívidos e complexos.
Até agora, essas descobertas foram feitas apenas com relatos subjetivos de voluntários. Nos testes, eles estavam acordados em diferentes estágios do sono e então descreveram seus sonhos. Essas descrições foram posteriormente analisadas por cientistas. A limitação desse método é que os resultados podem ser distorcidos. O pesquisador pode descobrir que relatórios mais longos significam que os sonhos são necessariamente mais complexos, o que nem sempre é o caso.
Pensando nisso, pesquisadores brasileiros criaram um novo método para analisar diferentes sonhos. DENTRO artigo publicado em jornal PLOS ONE, equipe liderada pela neurocientista Siddhartha Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, descreve o uso de um modelo computacional baseado na teoria dos grafos para a análise de sonhos. Os gráficos são estruturas matemáticas que representam as relações entre os elementos de um determinado conjunto.
Os pesquisadores coletaram relatos de 133 sonhos de 20 voluntários, obtidos quando eles acordaram em diferentes estágios do sono. Em vez de ler e analisar histórias de sonhos, os pesquisadores usaram um software para transformar relatórios em gráficos, palavra por palavra. Veja o exemplo abaixo.
“Não é uma questão de análise semântica, o significado das palavras. Não estamos lidando com o que foi dito, mas com a forma como foi dito. Isso permite uma infinidade de análises futuras sobre a compreensão do sono em diferentes culturas e países ”, explica Natália Mota, também da UFRN, FAPESP. Mota já usou a teoria dos gráficos em seu doutorado, no qual desenvolveu um método de diagnóstico da esquizofrenia por meio da fala do paciente.
O que importa aqui não é o conteúdo do sonho em si ou sua realidade, mas o quão complexa é sua estrutura, independentemente do escopo do relatório. Por meio dos gráficos, os pesquisadores mostraram que os sonhos obtidos na fase REM são, na verdade, mais harmoniosos e conectados do que os obtidos nas outras fases, que tendem a formar estruturas mais aleatórias e menos complexas.
Esta é a primeira vez que gráficos são usados para análise de sonhos. Segundo a equipe, o método é “promissor para a pesquisa dos sonhos por ser automatizado” e pode complementar os métodos tradicionais usados até então, escreveram no artigo.
Ainda não sabemos o que explica essas diferenças entre os sonhos. Os cientistas acreditam que os sonhos acontecem porque o cérebro organiza suas memórias e informações armazenadas durante o sono. É como se fosse uma grande limpeza, onde coisas importantes são armazenadas em gavetas e coisas sem importância desmoronam. Os pesquisadores de campo ainda precisam estudar como esse processo muda durante as fases do sono e quais outros fatores podem estar envolvidos.