O tratamento do câncer de mama com o SUS ainda é tardio e ineficaz, mostram pesquisas

O tratamento do câncer de mama com o SUS ainda é tardio e ineficaz, mostram pesquisas

Escrito por: FOLHAPRESS – EVERTON LOPES BATISTA

24/09/2020 às 21:00

Brasil e o mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Metade das mulheres com diagnóstico de câncer de mama pelo SUS (Sistema Único de Saúde) precisam de mais de 60 dias para iniciar …

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Metade das mulheres com diagnóstico de câncer de mama pelo SUS (Sistema Único de Saúde) precisam de mais de 60 dias para iniciar o tratamento, segundo estudo realizado pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer em parceria com um observatório de oncologia que pesquisa dados desde 2015. até 2019.
Os dados mostram o não cumprimento da lei do Ministério da Saúde, em vigor desde 2012, que estipula que o primeiro tratamento oncológico no SUS deve ser iniciado em até 60 dias após a confirmação do diagnóstico no laudo patológico. A Lei 12.732 passou a ser conhecida como Lei dos 60 Dias.
A mesma pesquisa mostrou que apenas 23% dos diagnósticos são feitos precocemente – quase metade dos resultados (47%) são obtidos tardiamente, quando o tratamento pode se tornar mais caro e difícil. O reconhecimento precoce da doença é um dos principais fatores para o sucesso do tratamento, dizem os médicos.
A cobertura das mamografias para detecção de doenças no SUS em mulheres de 50 a 69 anos (idade prioritária para o sistema) foi de 23%. Mesmo com os dados do sistema de saúde suplementar (cerca de 30% no mesmo período), a cobertura nacional ficaria abaixo do mínimo de 70% estabelecido para essa população pela OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo Nelson Correau, cientista da saúde. dados da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) que participaram do estudo.
Na avaliação de especialistas da área, os dados mostram que, apesar dos avanços na qualidade e agilidade do tratamento alcançados nos últimos anos, as abordagens do SUS ainda estão atrasadas e precisam de melhor gestão para aumentar a eficiência.
As conclusões do estudo foram divulgadas na noite de quinta-feira (24) durante um dos debates do Congresso Todos Juntos pelo Câncer, transmitido digitalmente.
“A triagem afeta a capacidade diagnóstica de todo o sistema. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor será a qualidade de vida desses pacientes. Além disso, o custo do atendimento ao SUS nesses casos é menor”, ​​disse Correa.
“O diagnóstico na fase inicial da doença reduz o custo do tratamento em seis vezes. Para o gerente, esse dado já é uma crença de que vale a pena começar o exame mais cedo”, disse João Bosco, mastologista e ginecologista, sócio da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Drauzio Varella é possível diminuir o tempo de espera para atendimento e ampliar a cobertura de exames com um melhor gerenciamento do sistema.
“O SUS tecnicamente tem todos os recursos para prestar serviços de saúde de forma mais eficiente do que realmente tem. Mesmo com cortes e orçamentos reduzidos nos últimos anos, temos os equipamentos e pessoal. Mas as coisas estão travadas”, disse.
Os números da pesquisa também apontam para dificuldades de acesso às mulheres dos pretos e pardos. Embora o diagnóstico precoce em mulheres brancas ocorra em 28% dos casos, apenas 19% das mulheres negras ou pardas têm a doença previamente detectada. A proporção de diagnóstico tardio também é maior nessa população. Assim, as chances de sucesso do tratamento são reduzidas.
Para os debatedores, ampliar o acesso ao atendimento é o maior desafio do SUS hoje.
“A desigualdade social deixa milhões de mulheres lutando para ter acesso a cuidados”, disse Varella. “Com tantos problemas de saúde e outras preocupações, os cuidados com os seios ficam a cargo dessas mulheres. Ela é muito diferente de uma mulher de classe média que marca uma consulta com o médico e pára na porta do consultório”, acrescentou. .
Para a deputada federal Silvia Cristina (PDT-RO), presidente da Frente de Câncer do Congresso Nacional, falta uma política pública para manter o programa reportando.
“É uma realidade triste. Infelizmente, o número de mamografias no norte, principalmente em Rondônia, não é suficiente para dar um diagnóstico a todas as mulheres que precisam. Isso impede o trabalho preventivo”, disse.
Para os profissionais, a educação em saúde e a conscientização sobre o câncer de mama, que podem ajudar no combate à doença, precisam atingir mais pessoas.
“É necessário mais esclarecimento entre as mulheres. Muitos pensam que o câncer de mama é uma doença de mulheres mais velhas, mas vemos que cada vez mais meninas com menos de 30 anos estão recebendo esse diagnóstico”, disse Varella.
O Congresso Todos Juntos Contra o Câncer termina nesta sexta-feira (25). Ainda é possível se cadastrar pelo site oficial.

Publicado na quinta-feira, 24 de setembro de 2020 20:53:00 -0300


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