O produto interno bruto (PIB) de Portugal voltou a divergir da Europa e da zona euro no segundo trimestre deste ano, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Eurostat.
A diferença entre as taxas de variação anuais (face ao segundo trimestre de 2019) é agora a mais desfavorável desde o início de 2013, altura em que o país se encontrava sob o programa de austeridade da troika e do governo do PSD-CDS.
Isto significa que os restantes países da moeda única estão a ficar mais pobres, mas também que Portugal está a ficar mais pobre mais rapidamente, em termos reais (descontando a inflação).
Conforme reportado ontem pelo Eurostat, a maioria dos países da União Europeia entrou em recessão profunda na sequência da pandemia e das medidas de confinamento decretadas pelos vários governos, mas o caso de Portugal é um dos piores, pelo que o país se afasta da média dos parceiros no pior momento possível.
Uma das principais explicações é que os países mais dependentes do turismo são os mais penalizados pelas barreiras à mobilidade que ainda existem e pela falta de confiança que entretanto se instalou entre os consumidores.
Segundo o INE, que ontem divulgou também a sua segunda estimativa preliminar para a evolução do PIB, a economia portuguesa afundou 16,3% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, o pior valor já registrado. Ainda assim, este valor, sendo muito negativo, é menos mau do que a primeira estimativa do INE há 15 dias (-16,5%).
Na área do euro como um todo, a situação é também a pior de sempre, mas a redução foi de 15%.
Isto faz com que Portugal volte a divergir em termos reais da média da moeda única, o que não acontecia desde meados de 2016. A desvantagem da variação do PIB de Portugal é agora de 1,3 pontos percentuais, naquele que é o diferencial mais negativo em sete anos (face à área do euro).
Em relação à União Europeia, acontece o mesmo, com uma diferença de 2,2 pontos percentuais em prejuízo de Portugal, segundo cálculos do Dinheiro Vivo com base em dados do Eurostat.
Na Europa, Portugal apresenta agora o quarto pior desempenho económico, atrás de Espanha (queda de 22,1% no segundo trimestre), França (-19%) e Itália (17,3%). Ainda não há dados disponíveis para a Grécia.
O INE também confirmou que o país entrou oficialmente em recessão técnica, acumulando dois trimestres consecutivos do PIB (em cadeia). A queda trimestral em relação aos três primeiros meses deste ano é de 13,9%.
No primeiro trimestre, a economia já havia recuado 2,3% desde que as medidas de contenção começaram a ser aplicadas em meados de março.
O INE explica que estes valores reflectem “em grande medida” o contributo muito negativo da procura interna para a variação homóloga do PIB e que foi “consideravelmente mais acentuada do que a observada no trimestre anterior”.
O instituto fala de uma “contração significativa” do consumo e do investimento das famílias.
As exportações são ainda piores e o colapso é histórico: o INE estima que as vendas de Portugal para o exterior tenham caído impressionantes 39,6%, o que se deve “em grande parte, à quase interrupção do turismo não residente” de abril a junho.
A Comissão Europeia está pessimista em relação ao que irá acontecer ao turismo em Portugal num futuro próximo. Ele diz que a incerteza sobre voos e turismo global afeta particularmente as economias que são muito dependentes do setor de turismo; os riscos que pairam sobre as projeções atuais são negativos “devido ao grande impacto do turismo estrangeiro, onde as incertezas no médio prazo continuam significativas”, justifica o instituto.