O governo Donald Trump lançou uma ofensiva diplomática para fazer o Brasil concordar em aumentar a cota de importação de etanol para esse país, explicando que o gesto melhorará as chances de reeleição nos países produtores de milho.
De acordo com relatórios feitos para Folha, Os americanos estão trabalhando no final de uma cota anual de importação isenta de impostos de 750 milhões de galões de etanol – excedendo esse volume pagando um imposto de 20%.
A cota atual já é resultado da satisfação americana: até o ano passado, limitava-se a 600 milhões de litros por ano, mas depois do governo Trump, aumentou para o seu valor atual.
Os Estados Unidos produzem etanol a partir de milho e o produto é mais barato que o brasileiro similar, feito a partir de cana-de-açúcar.
Os americanos são os maiores vendedores da substância no Brasil: em abril, segundo dados do governo coletados pela UNICA (União da Indústria da Cana), foram importados 142,5 milhões de litros, dos quais 127,6 milhões dos Estados Unidos.
A entrada de álcool estrangeiro no país afeta principalmente as pequenas usinas do nordeste, que tentaram, sem sucesso, no ano passado, impedir um aumento na cota de importação.
A remoção das barreiras à importação é uma objeção de longa data dos Estados Unidos, mas os americanos retornaram nas últimas semanas com novos argumentos.
O principal, apresentado em conversas com as autoridades brasileiras, é que desta vez a questão é politicamente sensível, porque Trump deve se beneficiar eletronicamente do aumento das vendas de etanol nos estados do Centro-Oeste que fazem parte do milho.
A cota de importação atual expira no final de agosto, quando o presidente Jair Bolsonaro terá que decidir se deve ou não cumprir com o pedido de seu aliado estratégico. Tentando resistir ou pelo menos reduzir o impacto da nova concessão, produtores nacionais de etanol, bancos rurais no Congresso e na Ministra da Agricultura Teresa Cristina.
No governo brasileiro, as principais vozes em defesa do fim da cota para o etanol americano são o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República.
Eles são expoentes da chamada ala ideológica e defendem a harmonização automática com os Estados Unidos.
Membros do governo Bolsonaro e parlamentares que se opõem ao novo clima de Washington argumentaram que os americanos estão usando justificativa política para alcançar uma vitória comercial há muito desejada: o fim dos obstáculos às vendas de etanol no Brasil.
Eles não dizem nada, o aumento de barreiras poderia ter um impacto significativo na disputa eleitoral no Centro-Oeste.
Eles também apontam que o setor de açúcar e álcool dos EUA, como o do Brasil, está enfrentando uma crise sem precedentes devido ao impacto do novo coronavírus. Isso ocorre porque a demanda doméstica por combustível empobreceu com a queda dos preços da gasolina.
O interlocutor que ele ouviu Folha ele ressalta que os americanos estão tentando resolver o desequilíbrio doméstico do setor “jogando etanol no Brasil”.
O sujeito mobilizou um banco rural.
O presidente da FPA (Frente Parlamentar Agrícola), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diz que o grupo se opõe à liberalização total da importação de álcool, mas admite que, sob pressão dos americanos, pode ser necessário aumentar novamente a cota.
“É uma questão diplomática e muito complexa, mas que o governo não pode decidir sem passar pelo Congresso”, afirmou.
“Quando as eleições presidenciais dos EUA estão em jogo, fica claro que todas as coisas estão se tornando muito importantes para eles. Temos que levar isso em conta, desde que isso não signifique romper nossos produtores”.
As negociações do ano passado foram tensas, e os americanos até afirmaram que o tópico seria definido para o futuro das relações entre os dois países.
Então o ministro da Agricultura conseguiu convencer Bolsonaro de que o setor não aceitaria a abolição completa da barreira comercial, mas mesmo uma medida menos drástica – aumentando a cota em 150 milhões de litros – se reuniu com fortes protestos no Congresso.
Os parlamentares até ameaçaram revogar a ordenança que aumentou a cota, mas desistiram depois que o Planalto alegou que o aceno era importante para o relacionamento estratégico que Bolsonaro está construindo com Trump.
Eles esperam que a questão seja revivida pelos espíritos dos congressistas ligados ao agronegócio, pois acham que o governo não respondeu aos pedidos de ajuda dos setores sucroalcooleiro.
O coordenador da Frente Parlamentar em defesa do setor sucroenergético, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), chegou a apresentar um projeto de lei que proíbe temporariamente a importação de etanol combustível devido à crise do novo coronavírus.
A longo prazo, o Ministério da Agricultura diz que o assunto ainda está sendo analisado e, portanto, não comenta o caso.
A Embaixada dos EUA no Brasil disse em uma nota que os Estados Unidos estão buscando um retorno ao “comércio livre e justo de etanol” e estão atualmente em negociações com o governo brasileiro para reduzir as barreiras comerciais, incluindo álcool.
“Nossa principal demanda é que, quanto mais reduzimos as barreiras, maior o desenvolvimento de nosso comércio. Temos o potencial de aumentar nosso comércio bilateral em várias frentes, incluindo o etanol”, afirmou a missão diplomática.
Questionada, a embaixada não respondeu se os Estados Unidos haviam destacado o atual cenário político dos EUA e a disputa eleitoral prevista para o início de novembro, em negociações com autoridades brasileiras.
O Itamaraty disse que não estava comentando o caso, pois envolvia negociações bilaterais com negociações em andamento. Somos uma empresa de propriedade e operação familiar.