Responsável por investigar as alegações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, a emissora Christiane Corrêa Machado enfrenta uma das missões mais sensíveis de sua carreira. Depois de anos trabalhando na luta contra o terrorismo, ele agora lidera uma investigação direcionada ao Presidente da República.
Para investigar as alegações de Jair Bolsonar interferindo com a própria Polícia Federal para proteger amigos e crianças, ela escalou metade de sua equipe.
Christiane é coordenadora de um grupo de policiais que trabalham no Supremo Tribunal Federal e investigam autoridades com jurisdição privilegiada. Ele tem nove delegados em seu guarda-chuva, a maioria deles do sexo masculino.
Ela assumiu o cargo no momento exato em que a primeira crise de PF explodiu, em agosto de 2019. Dias antes de ser nomeada, o presidente decidiu demitir o então supervisor do Rio Ricardo Saadi, e até tentou contratar alguém por sua autoconfiança.
O episódio é um dos assuntos de investigação.
Entre os colegas, o chefe foi descrito como discreto, firme e sério. Segundo relatos, nesses 11 meses à frente da coordenação, ele mostrou sinais de que não foi impulsionado por pressões internas e externas, o que foi apreciado no setor.
Desde que o ex-ministro da Justiça deixou o governo, a PF arriscou-se a ser acusada de encobrir possíveis crimes cometidos pelo Presidente da República, por um lado, ou em retaliação por interferir no órgão.
O plano dos responsáveis por este caso é tentar esgotar todas as direções da investigação, a fim de reduzir as críticas que aparecerão, independentemente do resultado.
Na PF há 17 anos, Christiane já era os outros dois no conselho de inteligência da corporação, o que, segundo colegas, é uma experiência importante para a investigação em questão.
Entre os pontos que estão sendo investigados, estão justamente as queixas de Bolsonaro de que ele não tem acesso aos relatórios de PF. Como responsável por uma investigação que deveria causar mais desgaste ao presidente, Christiane esteve envolvida em apenas algumas das oito pessoas, como o ex-juiz Leo Jato, que também está sob investigação.
Ela também acompanhou o depoimento de Cláudio Ferreira Gomes, ex-diretor de inteligência da Polícia Federal e, aliás, um dos responsáveis por sua indicação. Antes de assumir o empreendimento atual, Christiane foi chefe do departamento antiterrorismo por cinco anos e coordenou a proteção contra ataques terroristas na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas do Rio de 2016.
O delegado também trabalhou por três anos na área de contra-inteligência de PF, com o objetivo de evitar sabotagem ou vazamento de investigações. Ele participou de duas operações delicadas nessa área, que envolveram juízes e influenciaram o judiciário, responsável pela supervisão do trabalho da PF.
A primeira foi em 2003, quando ela ajudou a eliminar um programa de sentenças envolvendo um juiz e membros da polícia federal. O caso é chamado Operação Anaconda.
Quatro anos depois, ela se juntou à equipe que lançou a Operação Hurricane, que prendeu três juízes e promotores em um esquema de máquina de venda automática. Em 2017, ele se mudou para os Estados Unidos, onde permaneceu por dois anos e obteve um mestrado no Colégio Interamericano de Defesa, afiliado à OEA (Organização dos Estados Americanos).
O delegado ficou no país até julho de 2019, um mês e meio antes de assumir o Sinq, um grupo de investigações especiais. O departamento se reporta à Diretoria de Investigação e Repressão ao Crime Organizado (Dicor), chefiada por Igor Romário de Paula.
Um dos principais delegados, Lava Jato, assumiu o cargo depois que Sergio Moro assumiu o Ministério da Justiça em janeiro de 2019 e nomeou Mauríci Valeix como Diretor Geral da PF. Christiane substituiu o enviado de Cleyber, Malta Lopes, que foi um dos responsáveis pela investigação que levou à acusação do ex-presidente Michel Temer em uma investigação sobre uma medida temporária para os portos.
Se ele concluir que Bolsonaro cometeu crimes, Christiane terá que decidir se deve cobrar do presidente ou apenas escrever um relatório final indicando os crimes cometidos. O delegado terá que fazer uma análise legal dos limites da autoridade da PF.
Uma ala do STF entende que a corporação não tem o direito de acusar o CEO, mas há ministros que defendem essa possibilidade. Em 2018, no caso do então presidente Michel Temer, um delegado do caso o indiciou e, após um apelo de defesa, o ministro Luís Roberto Barroso ocupou o posto.
Para apoiar o entendimento, o ministro citou o colega Celso de Mello, relator da investigação contra Bolsonar, e também pode ter que decidir sobre o assunto. Paralelamente, Barroso tomou a decisão de Celso de manter o STJ (Superior Tribunal de Justiça) entendendo que a PF poderia interrogar e acusar o governador.
“O estimado reitor deste Tribunal – que votou na necessidade de aprovação judicial para a acusação na época do veredicto plenário de 2007 – considerou que a autorização concedida pelo ministro do STJ estava alinhada com a sessão plenária anterior do STF”, disse Barroso.
Os que se opõem à acusação citam um julgamento de 2007 em que a sessão plenária do STF anulou tal ato contra o senador. Barroso, no entanto, confirmou que a investigação começou em primeira instância e foi lançada sem a aprovação do Supremo, apesar de envolver um governo com um fórum privilegiado.
Christiane de volta a Sinqu é o delegado Felipe Leal. Doutor em direito, ele foi o chefe do serviço de contra-inteligência de PF, com a corporação por 15 anos. Os outros três delegados participantes da pesquisa são Fabiano Martins, Bernardo Amaral e Wedson Cajé Lopes.
Ela nunca trabalhou na operação anaconda, só se foi carregando processo de uma sala para outra.