Se existe um consenso intelectual decorrente de uma pandemia e as respostas necessárias para reduzir seus danos, é que as coisas não serão como eram antes.
Mesmo que desejemos que eles voltem, os hábitos serão diferentes, simplesmente porque as soluções encontradas na crise não desaparecerão da nossa memória.
É claro que essa é uma visão otimista que pressupõe que a necessidade de superá-la nos ajudará a se desenvolver. Por outro lado, a idéia de que vacinas e terapias eficazes levarão tempo para chegar às mãos do povo brasileiro e, enquanto isso, desafios afetivos e socioeconômicos levarão muitos ao fundo.
Diferentes versões do famoso “novo normal” partem de prerrogativas como essas para delinear panoramas globais, do ponto de vista de famílias e organizações. O bom é que as peculiaridades locais são de grande importância na futurologia.
É tentador dizer que as particularidades brasileiras são tão fortes e tão fortes que se sobrepõem a fatores globais. Não sei se é esse o caso, mas o fato é que elas abundam, inflam e não mostram sinais de resfriamento. O exotismo nos define.
Este artigo procura considerar alguns aspectos do novo normal no campo da tecnologia, com foco na produção de software, nas startups e no que vem junto. O objetivo é lançar luz sobre três tendências que precisam ser fortalecidas no nível local, pela retomada gradual das atividades econômicas, que vão contra a maior parte do que li. Para esse fim, fui guiado por conversas com líderes do setor, dados originais de pesquisa e minha própria experiência como parceiro no Escritório de Inovação, que existe há quase uma década.
“Cena da tecnologia” curva de continuação
Vamos começar com o fator mais importante, sensível e surpreendente: a sequência.
Ninguém sabe ao certo o que acontecerá nos próximos meses, em relação ao curso da epidemia, do qual se conclui que ninguém tem idéia de quando e como a economia brasileira reagirá. Assim, tanto as projeções da Universidade de Cingapura quanto a Johns Hopkins (os dois principais centros de pensamento do COVID-19) apontam que, em termos epidemiológicos, a situação mais provável é que a situação local só se estabilize até o final de dezembro.
A estabilização declarada não pode ser confundida com a erradicação do COVID-19 (embora empresas como a Pfizer estejam falando sobre a possibilidade de lançar a vacina em outubro deste ano, como você pode conferir aqui: https://cnb.cx/3dmlwJY), espera-se agora redução relevante nos casos observados, que dependerá de medidas de retirada social para manutenção, até que a vacina seja finalmente publicada em todo o país. Vale a pena ler um maravilhoso relatório do UOL sobre esses estudos.
Também não se pode presumir que a atividade econômica nacional como um todo permanecerá estagnada nos níveis atuais – não se desespere – o foco aqui é a tecnologia. O ponto é que o ecossistema em que essa convivência é altamente dependente de recursos, que em todo o mundo dão indicações de cautela a longo prazo.
Tendências no mercado brasileiro de tecnologia
O cenário tecnológico brasileiro é moldado por pessoas que trabalham no mundo corporativo, pelas PMEs da moda do Vale do Silício, por profissionais independentes que usam chapéus diferentes e, muitas vezes, ganham a vida com algo diferente, e por pesquisadores que trabalham em meio período. Muitas dessas pessoas se reúnem em reuniões, espaços de hackers, espaços dedicados em empresas (como Google), determinados eventos (como bsides), fóruns dedicados a diferentes idiomas, grupos em Telegrama e, indiretamente, no processo de encontrar soluções para problemas técnicos, no transbordamento da viga e outros.
Existem três maneiras básicas de se manter ativo nesse mercado: criar uma empresa com um produto rentável; trabalhar em uma empresa, de preferência bem estabelecida; não há desenvolvimento tecnológico como principal fonte de renda e combina passatempos com oportunidades. Meu foco vem primeiro.
Do ponto de vista do capital internacional e dos gigantes que se estabeleceram em schumpteriana, Empresas de biotecnologia, webconferência (como o Google Hangout, que cresceu 60% em março, e ampliação, que saltou de 10 milhões para 220 milhões de usuários entre dezembro de 2019 e março deste ano), conteúdo digital (como Netflix, que ganhou mais de 15 milhões este ano novos clientes) e entrega de alimentos, como Rapp, cuja operação brasileira aumentou mais de 300% este ano) valem significativamente mais do que antes do início da pandemia. Tudo indica que essa vantagem competitiva servirá como força motriz para consolidar essa importância nos próximos meses.
Por exemplo, hoje o Zoom vale mais do que as sete companhias aéreas mais valiosas combinadas. Em 15 de maio, o Zoom valia US $ 48,8 bilhões, enquanto o Zoom era uber valia US $ 56,8 bilhões – uma abordagem surpreendente, que poderia estimular a expansão da empresa em várias direções colaterais, de acordo com o próprio Uber, que passou de uma “viagem conjunta” para uma “empresa de mobilidade”.
O Brasil é menos próspero quando se trata de inovação radical – e deve continuar assim, devido ao comportamento refratário dos fundos de capital de risco -, mas é bastante rápido quando se trata do cheiro de dinheiro. Somente em março, nosso comércio eletrônico registrou um aumento de 32,6% no número de pedidos, o que resultou em 26,7% maior tráfego (corrigido), de acordo com uma pesquisa da Compre & Confie em parceria com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. As vendas digitais de produtos de saúde aumentaram 111%, enquanto as de perfumarias aumentaram 83% e as de supermercados 80%. Esses números estão ligados aos esforços de transformação digital, que muitas empresas desses setores já estão fazendo, apesar da falta de dinheiro.
As vendas on-line de alguns produtos de nicho, como equipamentos de ginástica em casa, aumentaram bastante nos últimos meses (por exemplo, mais de 1000% no Centaur, por exemplo). Outra ênfase diz respeito à eletrônica e a vários mercados (Americanas, Magazine Luiza e outros), que definitivamente se encaixam no cotidiano da classe média e, portanto, tornam-se ainda mais estratégicos. Esse aumento não significa que todas essas empresas estão ganhando mais dinheiro do que antes da pandemia, é importante observar. De qualquer forma, aqueles que tiveram um declínio no faturamento e no valor de mercado certamente estariam muito piores se não fosse por suas operações digitais bem estruturadas. Paralelamente, existem casos como o Magalu, cujo valor de mercado aumentou significativamente, o que, entre outros títulos, entre outros titãs, superou o que o Banco do Brasil fez e, durante este ano, o crescimento do mercado foi superior a 70%.
Enquanto sonhamos com invenções magníficas, o mais realista é que a recuperação do setor, no Brasil, é dominada pela expansão do emprego e das empresas com o objetivo de transformar a dinâmica de vendas daqueles que não conseguiram antecipar a crise ou não têm dinheiro suficiente para fazê-lo agora. Espera-se que esses atrasos aumentem a demanda por mercados, sistemas de pagamento, CRM, ERPs da Internet, segurança, logística e similares, na expectativa de que as perdas do período atual sejam revertidas. Paralelamente, devemos intensificar a disseminação e a maturidade do marketing digital, que ainda não atingiu todo o seu potencial aqui.
Outra área tecnológica que deve se tornar muito atraente é a educação a distância, por meio de plataformas LMS (como o Moodle e seu primo corporativo, Totara). Isso ocorre porque os pedidos que chegam ao mercado tendem a envolver muita personalização, que grandes fornecedores internacionais têm dificuldade em atender sem aumentar muito o preço. Não ficarei surpreso se o próximo unicórnio nacional vier deste segmento.
Compartilhando os princípios tecnológicos essenciais das modernas plataformas de aprendizado – escalabilidade, aprendizado de máquina e capacidade de resposta – várias plataformas de serviços devem surgir ou ser ocupadas no próximo ano. Do exame médico remoto (que não havia sido retirado antes devido a questões regulatórias), o mercado de profissionais autônomos / freelancers, a corrosão do emprego formal, combinada às incertezas na saúde do consumidor, deve intensificar a competição em vários segmentos das relações digitais. Isso foi discutido por muitas pessoas que investem na área, com propriedade.
Internacionalização de oportunidades
Para o mercado internacional, os salários pagos no Brasil, para profissionais de tecnologia, nunca foram muito altos, mas sempre estiveram longe dos níveis obscenos encontrados na Índia e em outros países onde as pessoas são fluentes em inglês. Isso explica por que, tradicionalmente, as empresas multinacionais se concentram pouco na tecnologia de terceirização.
Acontece que essa perspectiva mudou muito nos últimos meses à medida que o real se depreciou em relação ao dólar e ficou conhecido como moeda tóxica. Vale ressaltar que nossa moeda alcançou o pior do mundo entre janeiro e abril deste ano.
É verdade que a recuperação econômica que serve de pano de fundo para os passeios atuais está alinhada com a avaliação do real; No entanto, como a situação política sugere um agravamento da instabilidade, não parece prudente apostar contra o dólar. Essa forma de inferência é consistente com os bancos internacionais, como o UBS, que em seu cenário mais pessimista prevê a moeda dos EUA em US $ 7,35 no final de 2022 (não acho que seja esse o caso, mas também não espero uma recuperação relevante do real) .
A conclusão que se segue é que, proporcionalmente, deve haver mais projetos de tecnologia direcionados ao mercado internacional, além da empresa brasileira de tecnologia sediada em empresas estrangeiras – não que existam muitos (nacionais e internacionais permanecerão inalterados), mas será o suficiente para falar sobre a terceira fase do novo normal na primeira fase e trará como um de seus efeitos colaterais o fortalecimento da percepção de que o idioma inglês é essencial para quem trabalha nesse campo.
Da mesma forma, uma das conseqüências da consolidação do teletrabalho nos Estados Unidos, Europa e Ásia é a disseminação do descentralizado e de alto desempenho, com especialistas em tecnologia implantados em diferentes países. O Brasil se destaca nas áreas mais criativas da tecnologia (por exemplo, pós-produção, 3D, front-end), que há muito tempo é alimentado por agências de publicidade, empresas de produção, agências de design e afins. Suponho que alguns desses talentos acabem se engajando nas posições estratégicas das empresas americanas e européias, complementando a estrutura criada pela terceirização mais generalista.
Espaços físicos e home office permanente
O New York Times publicou em 19 de maio um excelente artigo sobre uma medida que empresas como o Twitter estão fazendo para tornar o cartório permanente. Recentemente (29/05), a EXAME informou sobre os resultados de uma pesquisa na qual a empresa de serviços imobiliários Cushman & Wakefield encomendou tendências no espaço corporativo para continuar. A amostra foi composta por líderes de organizações multinacionais. Segundo 59% dos entrevistados, há mais pontos positivos do que negativos no cartório e cerca de 73% das empresas (neste caso, empresas multinacionais que operam no Brasil) pretendem manter a prática em algum nível (para saber mais: https: //bit.ly/ 2MfAkhm).
De fato, as duas entidades centrais no cenário tecnológico não têm data para recuperar seu prestígio: coworking e um elevador gigante que leva a uma grande multidão. Mas é isso – e também do que as pessoas estão falando no meio do momento – o suficiente para assumir que um cartório permanente se tornará a tendência dominante? Acredito que não, ou melhor, não tanto quanto relatado.
O coworking é o maior símbolo máximo de uma economia compartilhada no trabalho e, devido ao investimento da WeWork em marketing, caiu na boca das pessoas. No entanto, quando olhamos para os números, a imagem é menos contagiosa, principalmente fora da cidade de São Paulo. O sentido feito em 2019 mostrou que existem alguns 1.477 associados no Brasil, 388 na capital São Paulo, Não há muitos deles. A conclusão é que a redução do interesse no coworking, devido ao risco de infecção por COVID-19 (e seus efeitos psicológicos a longo prazo) não deve afetar o cenário tecnológico de uma maneira muito relevante, exceto pelo fato de que muitas empresas nesse campo acabarão quebrando.
O caso mais grave são os prédios corporativos com elevadores para 19 pessoas, que terminam em lajes de mais de 100 e que costumam acomodar escritórios de empresas multinacionais, além de muitos outros de menor porte. Muitos preferem evitar um aumento nessas condições, o que será um problema para as empresas.
Dois fatores entrarão no modelo mental dos tomadores de decisão envolvidos nesta questão. Primeiro, e mais importante, nosso estilo de fazer negócios depende muito da empatia, em oposição ao que acontece na matriz, que tentamos tanto copiar. Devido a uma tradição que combina personalização e descrença no poder do contrato, é muito difícil no Brasil encerrar um projeto relevante sem passar por uma espécie de teste de sofá platônico (“idéias de namoro”, com muitos olhos) que não pode ser virtualmente reproduzido adequadamente. Todo empreendedor que tem um pouco mais de conhecimento sabe disso – o campo tecnológico não é exceção.
Outro fator é que o universo das PME – a maior parte do cenário tecnológico – apresenta deficiências que não são desprezíveis no gerenciamento de pessoas e informações. No Brasil, apenas grandes empresas e bancos possuem gestão profissional na medida em que podem realocar uma operação para um ambiente remoto sem sofrer muito. Para todo o resto, há uma falta de gerentes treinados, dinheiro para comprar licenças de software necessárias para colocar toda a equipe em funcionamento, myotodes para monitorar remotamente o processo de produção (que é crítico para a tecnologia), além da vontade de interagir de maneira mais impessoal e, portanto, chata em nome da produtividade. Hoje, tudo isso está em segundo plano – principalmente porque as coisas são mais lentas -, porém, essas lacunas devem ocupar um lugar mais central no debate, quando o mercado esquentar.
Tudo isso me leva a acreditar que a principal mudança ocorrerá na combinação de um cartório parcial, que na maioria dos casos deve favorecer as divisões menos críticas dos negócios, ocupando espaços menores e mais arejados, fora da área de verticalizações maiores da cidade. Essa hipótese é consistente com outros dados de Cushman & Wakefield: de acordo com cerca de 45% dos gerentes, o espaço físico das empresas deve ser reduzido e essa redução deve estar entre 10% e 30%. Esse movimento deve trazer à luz um debate interminável sobre mudanças no zoneamento urbano, em São Paulo e outras capitais, para acomodar o perfil mutável da demanda corporativa, que é outro debate também menos importante.
Fechar
Se existe um lema para todos os exercícios de futurologia, isso acabará por se provar pelo menos parcialmente errado. Ciente disso, sugeri algumas opiniões que se opõem à maior parte do que está sendo dito de fora, na esperança de despertar um debate saudável. Chegará a hora de decidir sobre a importância dessas previsões.
Como argumento, a sequência não nos levará a inovar mais, em um sentido radical e real, mas a promover a disseminação de tecnologias já consolidadas, com foco na transformação digital familiar. O argumento é simples: ouse exigir capital de risco e levará muito tempo para se desenvolver, enquanto o atraso tecnológico em sua esfera mais básica cobrará um preço de maneira cada vez maior, aquecendo a demanda por tecnologia de arroz e feijão.
Outro ponto, relacionado às nossas capacidades de entrega tecnológica, é que iremos notá-lo mais por empresas estrangeiras. Novamente, o motivo é prosaico: o real permanecerá desvalorizado por um longo tempo e isso levará à terceirização operacional da tecnologia (que tem tendência a crescer nos Estados Unidos e na Europa), exceto por alguns funcionários seniores aqui.
Por fim, acredito que um escritório doméstico amplo e ilimitado não se tornará a tendência dominante na área. Parece-me mais razoável pensar que expandiremos para espaços mais arejados e menos agressivos, fora dos círculos gerenciados dos centros de negócios. Ao combinar um escritório doméstico parcial e a ocupação desses espaços, livrar-nos-ei de muitas pequenas coisas, como o relógio de ponto e o crachá. É uma coisa boa que uma pandemia pode nos trazer.