Após vários trimestres de alta, o preço das casas começou a cair com a pandemia e a Comissão Europeia acredita que cairá ainda mais. A previsão consta do relatório da 12ª missão de avaliação do ajuste econômico pós-programa.
“Vários fatores apontam para uma desaceleração adicional no crescimento dos preços das casas no curto prazo”, apontam os técnicos de Bruxelas, justificando com a construção de novas moradias. “Os investimentos em construção residencial continuaram crescendo no primeiro semestre de 2020 e é provável que a oferta do mercado acompanhe gradativamente a demanda”, destaca o executivo comunitário.
Mas a queda no turismo e no investimento estrangeiro no mercado imobiliário também deve resultar em uma queda nos preços. “A queda nas atividades turísticas vai colocar ainda mais pressão sobre os preços, já que o mercado de aluguel de curto prazo dificilmente voltará aos níveis pré-pandêmicos tão cedo”, diz o documento divulgado na quarta-feira, 18 de novembro.
Todos os dados já conhecidos apontam para uma desaceleração dos preços das habitações. Segundo o Confidencial Imobiliário, o preço das casas caiu 2,1% em setembro face ao mês anterior, naquela que é a primeira tendência de queda desde setembro de 2015. Também os últimos dados do INE já sinalizam um travão na taxa de crescimento dos preços.
Moratórias são bomba-relógio
Ainda ligado ao mercado imobiliário está o alerta da Comissão Europeia sobre as moratórias que podem causar problemas aos bancos após o prazo para suspensão das prestações mensais terminar em 30 de setembro do próximo ano.
“Os bancos enfrentam riscos de deterioração da qualidade dos ativos, pois os empréstimos inadimplentes (NPL, em inglês) tendem a aumentar no momento em que expiram os atrasos dos empréstimos”, ou seja, a CE prevê que a inadimplência comece a ocorrer após setembro de 2022.
De acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal, no final de setembro existiam mais de 751 mil contratos cobertos pela inadimplência, sendo 42% referente ao crédito à habitação, 29% ao crédito ao consumo e os restantes 29% aos contratos de crédito a empresas .
O executivo comunitário lembra, por outro lado, que “em junho de 2020, cerca de 17% do crédito à habitação total e 30% do crédito a empresas beneficiaram de diferimentos de crédito, concentrados principalmente em micro e pequenas empresas”, deixando uma sugestão aos bancos evitar problemas futuros.
“Para gerir adequadamente este risco, é importante que os bancos olhem para além da suspensão temporária de pagamentos e se preparem para o aumento da inadimplência”, recomendando uma “ação antecipada com os tomadores e aumentando a provisão para perdas”. E acrescenta que “neste contexto, o papel das autoridades é primordial para garantir uma saída gradual das moratórias e outras medidas”, ou seja, o Governo deve preparar-se.
Paulo Ribeiro Pinto é jornalista em Dinheiro em espécie