Um “grande golpe” para o comércio e também para a restauração, que já se encontra na “falência”. O tom das associações que representam o setor de comércio e restauração foi de desespero quando souberam do toque de recolher obrigatório mais longo no fim de semana para os próximos 15 dias. Está prevista para esta segunda-feira um protesto promovido por um grupo de proprietários de restaurantes, que se concentrará no centro da cidade do Porto, na sequência de uma lenta marcha para a VCI para o “desespero” do sector.
Em declarações à agência Lusa, Pedro Maia, um dos empresários do grupo responsável pela iniciativa – que diz ter nascido “espontaneamente” nas redes sociais – explicou que reúne cerca de quinhentos proprietários de restaurantes (principalmente do Porto, mas também de Aveiro e Lisboa), que se comprometem a levar os respetivos funcionários ao protesto, a partir das 7h00.
“O objetivo é conscientizar as pessoas sobre o que está acontecendo. No momento não apoiamos mais essas novas medidas, isso é impensável. Já temos casos de fome em casa, investimos todo o lucro de 2019 no primeiro confinamento e não temos apoio ”, disse.
Garantindo que “o sector anda a pão e água”, os participantes no protesto depositarão simbolicamente pão e garrafas de água na Avenida dos Aliados, de onde seguirão, em marcha lenta, para a VCI, regressando ao ponto de partida previsto pelas 13 horas, hora determinada pelo Governo para o início do toque de recolher nos próximos dois fins-de-semana.
Em nota enviada pela manhã às redações, a Associação Nacional de Restaurantes PRO.VAR acusou o Governo de paralisar “quase completamente” um setor “à beira da falência” e defendeu a criação de um gabinete de crise para fiscalizar a atividade, deixando um aviso: “Vai demorar uma quantia colossal” para evitar a “catástrofe”.
A Associação acusou o Governo de conceber medidas “com bisturi” e considerou que as novas restrições anunciadas acabaram por ser “um fecho de porta aberta”: “Os restaurantes continuam abertos, mas completamente vazios, pois a ordem é para os portugueses. ficar em casa e, nos próximos fins de semana, os restaurantes continuarão abertos, mas apenas com entrega em domicílio ”.
João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCP), por sua vez, disse ao PÚBLICO que “qualquer restrição de mobilidade tem impacto” no sector, partindo do princípio que o restaurante “é o sector mais afectado”.
“Deve haver um plano de medidas especiais por alguns meses para este setor porque as já anunciadas não bastam”, defendeu, propondo que é necessário reforçar o demitir simplificado, aliviar o pagamento de impostos, além das moratórias já concedidas, e uma redução nos aluguéis da ordem de 40%.
João Vieira Lopes propõe ainda que os senhorios tenham uma redução ou isenção da taxa de liberação para poderem baixar os aluguéis dos estabelecimentos comerciais.
Lembrando disso esta semana o governo anunciou medidas não reembolsáveis para empresas, o dirigente pede que “sobretudo sejam operacionalizados o mais rapidamente possível” para que tenham um efeito na economia.
Outro alerta para o “grande golpe” e as “graves consequências” do retiro obrigatório nas tardes e noites de fim-de-semana veio da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC).
Em nota, a associação reconhece ter ficado “surpreendida” com a medida do Governo e defende que “as empresas já não apoiam os encerramentos forçados” por se tratarem de situações que provocam enormes perdas, demissões e contribuem para o abrandamento da economia.
O presidente da APCC, António Sampaio de Mattos, lembrou que as novas medidas restritivas foram anunciadas dias depois da assinatura de um acordo para tentar antecipar as compras de Natal. “Na mesma semana que assinamos um protocolo com o Ministério da Economia e Transição Digital que visa estimular a antecipação das compras de Natal a fim de evitar aglomerações de pessoas nos espaços comerciais, nos surpreendemos com uma medida que pode justamente provocar essas aglomerações de pessoas em outros horários do dia e da semana ”, avisa o responsável, lembrando, no entanto, que a saúde pública está na linha de frente das prioridades. Com Lusa